Opinião

Da falta de coluna vertebral e persistentes divisões

Trump "só vai permitir subserviência a Donald Trump”. O segundo dia da Convenção Republicana visto pelo correspondente da SIC em Cleveland, Luís Costa Ribas.

Luís Costa Ribas

No dia em que Donald Trump foi nomeado oficialmente candidato do Partido Republicano à Presidência dos Estados Unidos (terça-feira), o dia em que o tema da convenção era “Make America Work Again”, ficou a saber-se que ele quer despedir funcionários públicos e, se eleito, vai pedir ao Congresso quer aprove legislação facilitando tais despedimentos.

“Como sabem, Donald gosta de despedir pessoas”, disse o seu aliado Chris Christie durante uma reunião com doadores. Se for eleito, Trump quer despedir, primeiro, qualquer alto funcionário que tenha sido nomeado por Obama. As leis americanas protegem a função pública deste tipo de retaliação política e por isso Trump deseja vê-las alteradas.

Esta contradição não foi a única ironia do dia dedicado ao emprego. O emprego, e eventuais planos de Trump para o promover, estiveram ausentes, dando lugar a um segundo dia de ataques pessoais contra Hillary Clinton, com gritos da audiência incentivados pelo pódio, apelando à sua prisão. Tal como no primeiro dia da convenção, dedicado à segurança, houve insultos, acusações e ausência total de planos de governação, para além dos slogan básicos “vamos fazer a America grande de novo” e “América primeiro”.

Mas, mais irónica, é a postura do principal atacante de Hillary Clinton na noite passada: o governador de Nova Jérsia, Chris Christie. O agora apoiante de Trump, foi por este chamado, durante as primárias, de “rapazinho fraco”, por ter abraçado Obama em agradecimento pela ajuda após o furacão Sandy em 2012, de ser mau governador e responsável por o seu estado “está em apuros”, que devido à má governação a economia da Nova Jérsia é um "desastre” e os impostos muito altos. Proibiu-o, ainda, publicamente, de “comer mais Oreos”, numa referência à sua obesidade extrema. Como Christie, o ex-cirurgião Ben Carson foi ao palco apoiar Trump - que nas primárias o acusou, mentindo, de abusar sexualmente de crianças.

A improvável façanha de Donald Trump concretizou-se e é agora candidato do partido à Presidência. Mas não sem mais uns “arranhões” na coreografia da votação que atrapalham a tão desejada unificação do partido. O Alaska votou para dar 12 votos a Ted Cruz, 11 a Trump e 5 a Marco Rubio. Mas o secretário da convenção anotou 28 votos para Trump tendo sido alegado que o Alaska não compreende as regras do… Alaska, para a distribuição dos votos da sua própria delegação aos participantes nas primárias. O incidente, que levou à interrupção dos trabalhos, nunca teria qualquer peso no resultado final, dada a margem de vitória de Trump. Mas a mensagem foi clara, para o Alaska, Washington DC, e dois outros estados que distribuíram votos por candidatos, proporcionalmente aos resultados das primárias, e viram os dirigentes da convenção atribuir a totalidade dos seus votos a Trump. Donald Trump "só vai permitir subserviência a Donald Trump”, disse o delegado republicano de Washington, Chip Nottingham. “Isto é mesquinho. Se Trump não nos ouve agora, como vai ouvir-nos depois de ser eleito?” Há quem tenha mau perder. Trump tem mau vencer?

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