O mundo fora das nossas portas tornou-se também um lugar ainda mais perigoso, onde tudo é volátil e a maior parte das situações não são passiveis de compreensão.
Em muitos aspectos andámos para trás em termos civilizacionais , como se estivéssemos constantemente à beira do abismo, do retorno a uma idade média de má memória.
Por cá a memória também se desvaneceu para muita gente.
Deixando o ridículo de discutir quem trouxe a Troika para Portugal, o facto é que a passagem dos credores pelo país obrigou-nos a todos a um apertar de cinto mas também a um repensar a vida.
Todos os dias ouvimos bramir contra a falta de liberdade.
Quem o faz só pode pertencer a dois grupos. Quem nunca viveu antes do 25 de abril, ou quem tem uma agenda própria em que o significado de liberdade não é o que consta do dicionário.
O facto de estar aqui a escrever é um exemplo perfeito da liberdade em que vivemos.
Mas o abuso da palavra liberdade equipara-se ao abuso da palavra democracia.
Ambas são usadas muitas vezes de forma incorrecta e atiradas como arremesso politico e nada mais.
Vivemos hoje numa sociedade que transpira o ”politicamente correcto” por todos os poros.
Só a esquerda é detentora da razão. Só a esquerda defende os mais fracos. Só a esquerda tem valores. Enfim a lista é infindável.
Podemos perguntar qual esquerda. A confusão é muita: o PCP e os partidos de extrema-esquerda consideram o PS liberal. O PS considera o PSD de direita e assim por diante.
Ficamos com um enorme buraco no centro, o centro onde efectivamente se ganham eleições.
Apoiar a Coligação, acreditar que o governo fez o melhor que pode por um Portugal à beira da bancarrota é pois politicamente incorrecto.
E mais grave ainda é acreditar que não nos podemos aventurar pelos caminhos da Grécia, sim porque é importante falar da Grécia, e que entre o sonho, a ficção e a realidade existe esta coisa terrível que é governar um país que continua a ter que pagar empréstimos e obrigações.
Se acordarmos no dia 5 com um cenário de ingovernabilidade, bem podemos dar por perdidos todos os sacrifícios destes anos.
E então depois falem de liberdade e democracia.
Sobre Luísa Castel-Branco
Luísa Castel-Branco esteve sempre ligada à comunicação.
Começou por colaborar no Jornal Semanário e mais tarde fez parte do grupo fundador da revista Máxima. Em 1999, aceita o convite para fazer parte do projecto Canal Notícias de Lisboa (CNL) e apresentou o Talk Show Luísa.
Na televisão conduziu ainda o concurso Dinheiro à Vista na TVI e, mais tarde, na RTP1 o programa diário Emoções Fortes e o concurso O Elo Mais Fraco. Depois de uma pausa, voltou aos programas em directo, com Noites Interactivas, no canal 21 da TVCabo.
Na SIC Mulher, apresentou «Vícios e Virtudes» e participou ainda em «Eles por Elas».
Hoje colabora no programa Passadeira Vermelha da SIC CARAS.
Outra das suas maiores paixões é escrever
Depois de em 2001 ter publicado Luísa - o seu primeiro livro - estreou-se no romance com "Alma e os Mistérios da Vida", uma obra que convenceu a crítica e conquistou o público.Escreveu ainda Para ti, Não desistas de mim, Diz-me só a verdade e Estranho Lugar para amar.