Olhares pelo Mundo

A luta pela sobrevivência dos últimos ocelotes selvagens dos EUA

Cientistas tentam salvar esta espécie de felino que só vive na América e está em risco de extinção.

Catarina Solano de Almeida

Ana Isabel Pinto

Numa corrida contra o tempo, cientistas tentam salvar os últimos ocelotes selvagens dos Estados Unidos, uma espécie de felino em risco de extinção. Com apenas duas pequenas populações reprodutoras no sul do Texas, os investigadores recorrem a técnicas de fertilização inovadoras, mas os desafios persistem.

Os ocelotes – ou jaguatiricas no Brasil – são felinos de médio porte com um característico padrão malhado. Em meados do século XIX, eram comuns no sudoeste dos Estados Unidos, mas atualmente restam menos de 100 indivíduos em território norte-americano. Apenas duas pequenas populações reprodutoras sobrevivem no sul do Texas, o que faz delas as últimas colónias selvagens da espécie no país. Fora dos EUA, o felino pode ser encontrado no México, na América Central e na América do Sul.

A East Foundation, uma organização sem fins lucrativos, gere uma destas populações em quintas no sul do Texas, onde estes esquivos animais noturnos se escondem entre arbustos densos e espinhosos. Ashley Reeves, veterinária investigadora da fundação, explica que a ação humana teve um papel determinante no declínio da espécie.

“Na época em que o comércio de peles se tornou muito popular, eram caçados pelas suas belas peles. E também a perda de habitat, a invasão humana, a construção de grandes cidades e estradas, por isso as estradas são hoje um dos seus principais assassinos”.

Técnicas de fertilização e inseminação

Desde 2021, Ashley Reeves e Bill Swanson, diretor de investigação animal do Jardim Zoológico de Cincinnati, têm trabalhado para aumentar a população de ocelotes em cativeiro. O objetivo é utilizar esperma de machos selvagens do Texas para fertilizar fêmeas mantidas em instituições zoológicas.

A equipa recorre a duas técnicas:

  • Inseminação artificial, em que o sémen é introduzido diretamente no sistema reprodutivo da fêmea.
  • Fertilização in vitro, na qual ovócitos recolhidos das fêmeas são fertilizados em laboratório e posteriormente implantados ou congelados.

No entanto, os resultados têm sido desanimadores: das 13 inseminações artificiais e quatro tentativas de fertilização in vitro realizadas nos últimos anos, nenhuma resultou numa gravidez viável.

Os desafios da reprodução em cativeiro 

Bill Swanson aponta vários fatores que dificultam o sucesso das técnicas de reprodução assistida: a consanguinidade, o stress ambiental – como a desidratação provocada pela seca – e a baixa motilidade dos espermatozoides congelados.

Além disso, os ocelotes têm um ciclo reprodutivo lento: ao contrário dos gatos domésticos, que geram quatro a seis crias por ninhada, um ocelote costuma dar à luz apenas um filhote, que permanece sob os cuidados da mãe durante um ano.

“Um ocelote tem geralmente um gatinho. Este é o tamanho normal da ninhada. E na natureza, a mãe vai criar o gatinho durante um ano inteiro até que ele tenha idade suficiente para sair sozinho. Portanto, os ocelotes são naturalmente reprodutores lentos", diz Swanson.

Em dezembro de 2023, os investigadores tentaram fertilizar óvulos de Milla, uma fêmea de cinco anos do Texas State Aquarium, em Corpus Christi, Texas, utilizando esperma de um macho selvagem. Dois dias depois, constataram que nenhum embrião se tinha formado.

“É dececionante, mas, ao mesmo tempo, a ciência nem sempre segue o caminho que se espera", lamentou Reeves.

A equipa também realizou um procedimento de inseminação artificial no Jardim Zoológico de Houston, utilizando esperma fresco de um macho de 21 anos chamado Jack, implantado em Genoveve, uma fêmea de 12 anos. Inicialmente, os cientistas estavam otimistas, mas dois meses depois, sinais de cio indicaram que a gravidez não ocorreu. Agora, os investigadores monitorizam os níveis hormonais de Genoveve para confirmar o resultado.

Novas aprendizagens e estratégias

Apesar dos insucessos, cada tentativa traz novos conhecimentos que poderão aumentar as probabilidades de sucesso no futuro. A prioridade é preservar a diversidade genética da espécie, combinando genes de ocelotes selvagens com os de animais em cativeiro.

Em março de 2024, a East Foundation e o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA aprovaram um acordo para a libertação de ocelotes em terrenos privados no Texas. A parceria permite que proprietários de terras continuem as suas atividades agropecuárias enquanto os felinos são monitorizados no habitat natural.

Nos próximos meses, os investigadores planeiam capturar novos machos selvagens para recolha de esperma, com novos procedimentos de fertilização previstos para o outono. Até ao final do ano, será construída uma instalação em Kingsville, no Texas, dedicada à reprodução e reabilitação dos ocelotes. O espaço servirá também como centro de aprendizagem para que os jovens felinos desenvolvam instintos de caça antes de serem libertados na natureza.

Salvar o ocelote: uma questão de valores 

A luta pela sobrevivência do ocelote nos Estados Unidos não se resume à preservação de uma única espécie, mas simhttps://www.ckwri.tamuk.edu/ocelot-research-and-conservation

"Basta olhar para o gato: porque não havemos de querer que ele continue a existir na natureza? Proteger esta espécie significa também proteger o seu habitat e o ecossistema onde vive, que sustenta tantos outros animais e preservar o equilíbrio ecológico que permite às pessoas sobreviver neste planeta", conclui Swanson.
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