O testemunho comovente de Lisa Vincent, de 52 anos, uma das primeiras pacientes a testar um novo dispositivo de reabilitação de AVC, que poderá ajudá-la a recuperar os movimentos perdidos.
Vincent, que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) há quatro anos, ficou com o braço esquerdo imóvel e rígido. Nos últimos dois meses, tem trabalhado com investigadores, completando oito sessões com o novo dispositivo.
“Perdi a minha vida. Perdi o meu emprego. Perdi tudo”, disse Vincent à Reuters durante uma das suas sessões de terapia.
Inicialmente, Vincent não acreditava que o tratamento fosse resultar. “Pensei: isto não vai funcionar comigo… Mas, quando comecei a notar mudanças, foi como o aniversário, o Natal, tudo ao mesmo tempo. Foi o melhor dia da minha vida.”
Desenvolvimento da tecnologia e fase piloto
Desenvolvido pela Neubond, uma startup derivada do Imperial College London, o dispositivo está na fase piloto de ensaio com pessoas que frequentam um grupo de apoio a vítimas de AVC em Chiswick, no oeste de Londres. Os investigadores têm trabalhado com quatro pacientes, todos com funções motoras comprometidas.
O protótipo prende-se ao antebraço e está equipado com elétrodos para detetar a ativação muscular e estimuladores que ativam os nervos do paciente. Lisa descreve a sensação como “um formigueiro, seguido de uma massagem profunda”.
O dispositivo liga a estimulação sensorial à atividade muscular, promovendo a neuroplasticidade no cérebro. Essencialmente, ajuda a refazer a ligação entre o cérebro ao membro afetado, melhorando o controlo motor.
“Por exemplo, quando alguém tenta agarrar um objeto, o cérebro envia um sinal para os músculos. O dispositivo deteta a ativação do músculo e, em resposta, envia uma estimulação que aumenta a contração muscular. Ao mesmo tempo, envia um sinal de retorno para o cérebro, reforçando as ligações entre o cérebro e o músculo, o que ajuda na recuperação da mobilidade”, explicaram os investigadores.
Esperança e recuperação
A Neubond, liderada por Patrick Sagastegui e Jumpei Kashiwakura, pretende melhorar a vida das pessoas com deficiências motoras com um dispositivo que pode ser usado em qualquer lugar, integrando-se facilmente nas rotinas diárias.
Para Lisa Vincent, o dispositivo trouxe melhorias significativas ao seu braço esquerdo, que antes estava completamente rígido. Agora, é capaz de dobrá-lo e fleti-lo com muito mais controlo do que esperava. “Até consegui pegar na minha neta”, contou emocionada.
“Chorei até adormecer nessa noite. É uma memória que vou guardar por muito tempo. Não posso agradecer-vos o suficiente”, disse a Vincent a Sagastegui e Kashiwakura.
“Estou muito orgulhoso de si”, respondeu Kashiwakura.
Outro participante nos testes é Faisal Hussain, de 62 anos, que sofreu uma grave hemorragia cerebral, deixando-o inicialmente completamente paralisado. Após seis meses no hospital, começou a usar o dispositivo da Neubond e, recentemente, conseguiu mover o braço direito. A sua mulher, Sophia, que o acompanhava, emocionou-se ao ver o progresso.
“Só de ver isto… percebo que ele sentiu algo e ficou realmente comovido. É incrível”, disse ela à Reuters.
Apesar das melhorias, Sophia reconhece que o caminho para a recuperação é longo. “Acho que o progresso é incrível, comparado com o estado em que ele estava inicialmente. Mas é difícil esquecermos como ele era antes do AVC… é uma jornada muito difícil”, confessou.
Próximos passos
Após este ensaio piloto de pequena escala, a equipa da Neubond planeia iniciar novos testes em janeiro de 2025 no Hospital Charing Cross, em Londres, com um grupo maior de 20 pacientes. E
ste estudo irá validar a eficácia terapêutica do dispositivo na melhoria dos movimentos funcionais.
Paralelamente, a empresa irá iniciar o processo de certificação para garantir que o dispositivo cumpre as normas médicas. O próximo objetivo é colaborar com clínicas privadas para lançar o dispositivo no mercado.