Nas águas do Mar Mediterrâneo, um ecossistema crucial mas ameaçado luta pela sobrevivência. A Posidónia oceânica, muitas vezes chamada de "pulmão do Mediterrâneo", enfrenta desafios sem precedentes devido às alterações climáticas, ao aumento da temperatura do mar, à invasão de espécies exóticas e às atividades humanas diretas perto da costa.
Esta erva marinha única é endémica do Mediterrâneo e desempenha um papel vital na manutenção da saúde marinha e no combate às alterações climáticas.
Ramla Bouhlel, engenheira de pescas e ecologia marinha explica: "A Posidónia é uma importante fonte de oxigénio e absorve dióxido de carbono, o que significa que atrai muito carbono, que é um problema que enfrentamos atualmente."
A importância da Posidónia vai muito além da produção de oxigênio. De acordo com um estudo publicado na Nature Geosciences, absorve dióxido de carbono três vezes mais eficazmente do que as florestas tropicais.
Ahmed Ghedira, presidente da Associação Notre Grand Bleu, sublinha o papel crucial desta planta: "A Posidónia fornece serviços ambientais inestimáveis, particularmente na regulação climática".
O último da estudo da Notre Grand Bleu, realizado na Baía de Monastir e nas Ilhas Kuriat, mostra que mostra que a Posidónia pode armazenar mais de 350 toneladas de carbono por hectare.
Estão em curso esforços para proteger e restaurar esta planta marinha vital, especialmente na Tunísia. Ghedira e a sua equipe trabalham para preservá-la através da restauração passiva, acompanhando a sua evolução, e da restauração ativa, pelo cultivo de novas áreas, explica o ambientalista.
A Associação Notre Grand Bleu, ajudou a plantar 1.000 metros quadrados para uma experiência científica sobre a eficiência do cultivo de Posidónia.
Estes esforços de conservação são cruciais, especialmente tendo em conta que a Tunísia, ao contrário de países como França, carece de leis específicas que protejam estes ecossistemas subaquáticos.
À medida que as alterações climáticas continuam a ameaçar este "pulmão verde" essencial do Mediterrâneo, inicia-se a corrida para a salvar a Posidónia e preservar esta erva marinha para as gerações futuras.
Mediterrâneo bate novos recordes de temperatura média
As temperaturas no Mediterrâneo estão a bater recordes, pelo segundo ano consecutivo, ameaçando a vida marinha, encorajando espécies invasoras e aumentando a intensidade potencial das chuvas numa região particularmente afetada pelos efeitos do aquecimento global.
A 15 de agosto, a temperatura média diária à superfície do Mar Mediterrâneo atingiu um valor sem precedentes de 28,90°C, batendo o recorde de 28,71°C registado a 24 de julho de 2023, segundo o Instituto de Ciências Marinhas (ICM) de Barcelona e do instituto catalão ICATMAR.
Estas leituras preliminares baseiam-se em dados de satélite do serviço marítimo do Observatório Europeu Copernicus, que remontam a 1982.
Durante dois verões consecutivos, o Mediterrâneo terá estado mais quente do que no verão abrasador sem precedentes de 2003, quando uma média diária de 28,25°C foi medida a 23 de agosto, um recorde que se manteve durante vinte anos.
A região mediterrânica é há muito tempo classificada como um 'hotspot' (ponto quente) das alterações climáticas, pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) das Nações Unidas.
Com Reuters e Lusa