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Tecnologia criada pela OpenAI ajuda jovem a reproduzir a voz que perdeu devido a um tumor

"É incrível recuperar a minha voz porque, quando perdi, foi quase como se me tivessem tirado uma parte da minha identidade", disse Alexis Bogan, em entrevista à Associated Press.

Elisa Macedo

Gabriel Pato

Alexis Bogan tem 21 anos e, no verão passado, descobriu que tinha um grave tumor no cérebro, que exigiu uma intervenção cirúrgica de urgência. Foi uma operação difícil, que deixou marcas profundas. Lexi, como é mais conhecida, ficou sem voz. Meses mais tarde, a jovem norte-americana foi a paciente escolhida para testar a Voice Engine, tecnologia desenvolvida pela OpenAI, que permite recriar a voz de alguém com apenas 15 segundos de áudio.

"A Lexi veio à consulta depois de meses de dores de cabeça, náuseas e vómitos. Descobrimos que ela tinha um tumor próximo da base do crânio. Era do tamanho de uma bola de golfe, muito vascular. Ela teve que passar por uma cirurgia cerebral urgente que durou 10 horas, com grande perda de sangue porque o tumor estava muito irrigado e devido à pressão nos nervos cranianos que controlam a função das cordas vocais e os músculos da garganta e a língua. Depois da cirurgia não conseguia falar," explicou à Associated Press (AP) Konstantina Svokos, neurocirurgiã pediátrica do Hospital de Rhode Island, onde Lexi é acompanhada

Meses de reabilitação ajudaram a jovem a recuperar, mas a fala continua afetada.

Lexi sempre gostou muito de cantar. No ensino secundário, era soprano no coro da escola. As baladas de Taylor Swift e Zach Bryan eram as sua favoritas, mas tudo isso se apagou com a doença, assim como a capacidade de comunicar as mensagens mais simples.

Quando saía de casa para ir às compras, precisava sempre de ir com a família ou amigos que a ajudassem a transmitir os seus pedidos.

Em abril, Lexi foi a paciente escolhida para testar uma nova tecnologia desenvolvida pela OpenAI.

“Todos temos visto a Inteligência Artificial (IA) a evoluir, em apenas um ou dois anos, e há muitas perguntas sobre isso, muitas perguntas sobre como vai ajudar as pessoas. Esta tecnologia chamada Voice Engine, desenvolvida pela OpenAI, permite recriar a voz de alguém com apenas 15 segundos de áudio," disse Rohaid Ali, neurocirurgião e professor da Universidade de Brown, em Rhode Island, um dos responsáveis pelo desenvolvimento desta nova aplicação.

Com um breve excerto da voz de Lexi, retirado de um vídeo de culinária que tinha feito e partilhado nas redes sociais, foi possível clonar a voz da jovem paciente.

Uma equipa trabalhou neste projeto com o intuito de ajudar pacientes como Alexis Bogan. Desafiaram a OpenAI, criadora do ChatGPT, para desenvolver esta aplicação médica com o objetivo de gerar voz através de IA.

Assim surgiu a Voice Engine e através desta aplicação instalada no telemóvel, Lexi recuperou a voz e a independência.

"É incrível ter uma coisinha no bolso que podes simplesmente tirar e que fala por nós (...) Agora, posso ter um pouco da minha independência de volta porque tenho essa tecnologia que posso levar comigo," disse Lexi entusiasmada.

“É incrível recuperar a minha voz porque, quando a perdi, foi quase como se me tivessem tirado uma parte da minha identidade", realçou, em entrevista à AP.

Atualmente, Lexi usa a aplicação cerca de 40 vezes por dia e envia comentários que espera que ajudem futuros pacientes. Uma das suas primeiras experiências foi conversar com as crianças da pré-escola onde trabalha como educadora de infância. A jovem digitou "ha ha ha ha" esperando uma resposta robótica, mas, para sua surpresa, o som que surgiu era realmente muito idêntico à sua antiga gargalhada.

Alerta para uso abusivo da clonagem de voz

Os especialistas alertam que a rápida melhoria da tecnologia de clonagem de voz por IA pode aumentar as fraudes telefónicas, perturbar eleições e até violar a dignidade das pessoas, que nunca consentiram em ter a voz reproduzida para dizer coisas que nunca disseram.

Esse tipo de tecnologia tem sido usada para realizar chamadas automáticas falsas para eleitores de New Hampshire, a imitar a voz do Presidente dos EUA, Joe Biden.

Em Maryland, as autoridades acusaram recentemente um diretor desportivo de uma escola secundária de usar IA para gerar um clip de áudio falso do diretor da escola a fazer comentários racistas. Estes são exemplos do uso abusivo deste tipo de tecnologia.

Ainda esta semana, foi divulgada a notícia de que a empresa OpenAI interrompeu cinco operações secretas que usavam os seus modelos de IA para "atividades enganosas" na internet, ligadas a agentes de ameaças da Rússia, China, Irão e Israel.

Apesar de todos os riscos, sabe-se também que em casos como o de Alexis Bogan, estas novas tecnologias podem traduzir-se num significativo aumento da qualidade de vida.

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