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William Lai, o filho de um mineiro de carvão que ascendeu a líder de Taiwan

Ao contrário da maioria da classe política de Taiwan, o novo líder William Lai Ching-te provém de um meio modesto.

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Lusa

Filho de um mineiro de carvão, William Lai Ching-te tomou esta segunda-feira posse como líder de Taiwan, cabendo-lhe gerir a complexa relação com Pequim, que aumentou a pressão militar e diplomática sobre a ilha.

Ao contrário da maioria da classe política de Taiwan, Lai, nascido em 1959, provém de um meio modesto. A mãe criou-o sozinho, com cinco irmãos e irmãs, numa aldeia rural de Nova Taipé (norte), após a morte do pai, quando ele era muito novo.

Após se ter licenciado em saúde pública na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Lai começou por trabalhar como médico num hospital em Tainan (sudoeste).

Descrito como combativo, William Lai decidiu entrar na política em 1996, quando Pequim testou mísseis em torno de Taiwan por altura das primeiras eleições presidenciais democráticas da ilha.

"Decidi que era meu dever participar na democracia taiwanesa e ajudar a proteger esta experiência nascente daqueles que a queriam prejudicar", afirmou, numa entrevista ao jornal norte-americano Wall Street Journal.

Na cerimónia de tomada de posse desta segunda-feira, Lai afirmou que a sua vitória e a do Partido Democrático Progressista (DPP, na sigla em inglês) nas presidenciais de janeiro enviaram uma mensagem clara à China de que o povo taiwanês "rejeita o autoritarismo".

Primeiro deputado e depois presidente da câmara de Tainan, Lai tornou-se primeiro-ministro sob o comando da Presidente Tsai Ing-wen, em 2017, e depois vice-presidente, em 2020.

Com 64 anos, casado e pai de dois filhos, Lai comprometeu-se a prosseguir a política de Tsai de reforço das capacidades militares de Taiwan para dissuadir a China continental, que, nos últimos anos, intensificou a pressão militar através da realização de exercícios com fogo real em torno da ilha e do envio de caças e navios de guerra para perto do território.

Pequim diz que Lai pretende conduzir Taiwan para o caminho da "guerra e do declínio"

A sua franqueza valeu-lhe a ira de Pequim, que o descreve como um "separatista perigoso" que pretende conduzir Taiwan para o caminho da "guerra e do declínio".

Durante a campanha, Lai afirmou que a eleição era uma escolha entre "democracia e autocracia" e prometeu apoio inabalável à manutenção do 'status quo' no Estreito de Taiwan.

O território opera como uma entidade política soberana, com diplomacia e exércitos próprios, apesar de oficialmente não ser independente.

Pequim considera Taiwan uma província sua e já avisou que uma proclamação formal de independência seria vista como uma declaração de guerra.

Lai denunciou também "o princípio chinês de 'uma só China'", porque "a paz sem soberania é como Hong Kong", uma antiga colónia britânica onde Pequim impôs em 2020 uma lei de segurança nacional para reprimir qualquer dissidência.

Apesar de ter dito à China que está aberto ao diálogo, Lai vai provavelmente ser rejeitado e Pequim "não vai responder de forma mais positiva" do que respondeu a Tsai, disse Steve Tsang, diretor do SOAS China Institute, um centro de investigação ligado à Universidade de Londres, citado pela agência de notícias France Presse.

"A verdadeira questão é saber como é que Lai vai ajustar a sua abordagem, uma vez que o braço que provavelmente estenderá a Pequim será recebido com uma resposta fria, se não pior", acrescentou o cientista político nascido em Hong Kong.

Quando era primeiro-ministro, Lai foi mais franco do que Tsai na questão da independência, o que, segundo alguns observadores, levou os principais parceiros, como os EUA, principal fornecedor de armas de Taiwan, a preocuparem-se com a sua futura gestão das relações com Pequim.

Segundo Luo Chih-mei, professor de ciências políticas na Universidade Nacional de Taipé, é pouco provável que Lai tome "medidas complexas no ano das eleições presidenciais norte-americanas".

Ryan Hass, membro do 'think tank' norte-americano Brookings Institution, considerou que Lai não é um "fanático", que se dedica à independência de Taiwan, mas sim "um político profissional que organizou a sua carreira para se tornar presidente".

Na esperança de apelar aos jovens eleitores, muitos dos quais estão desiludidos após oito anos de governo do DPP, Lai prometeu aumentar os salários, reduzir impostos e criar mais habitação pública.

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