O chefe da diplomacia norte-americana chegou na madrugada desta terça-feira a Kiev para uma visita surpresa, enquanto na frente do conflito, a Rússia continua a conquistar povoações. Nos próximos dias, Vladimir Putin vai à China e Volodymyr Zelensky chega a Portugal. “Visitas cruzadas” que não representam bons sinais.
Para Marcos Farias Ferreira, professor de Relações Internacionais, o posicionamentos destes líderes globais “mostra como as expectativas são de que os conflitos e a violência se vão arrastar”.
“Acho que estão todos a preparar-se para guerras muito prolongadas, onde é preciso encontrar recursos e aliados, onde é preciso suster estratégias que têm resultados muito pouco visíveis no curto prazo. Isso vai arrastar-nos para uma situação insuportável nos próximos tempos”.
"Biden está a ser atacado por todos os lados”
No caso do chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, que está pela quarta vez na Ucrânia desde a invasão russa em 2022, há um fator interno em causa. É que o atual presidente dos EUA terá, provavelmente, a concorrência que Donald Trump nas eleições deste ano - e as guerras tornaram-se temas caros no país.
“Julgo que a administração Biden tem um problema nas vésperas das eleições. Ele está preso por uma tenaz à Esquerda e à Direita. Está a ser atacado por todos os lados”, comenta Marcos Farias Ferreira, recordando que um antigo conselheiro para a Segurança Nacional, John Bolton, “acusou diretamente Biden de ser pró-Hamas”.
As críticas chegam de todos os lados por causa “de mínimas concessões ou das mínimas críticas que Biden e a sua administração estão a fazer a Israel”, explica o professor, salientando que o posicionamento norte-americano em relação à guerra na Ucrânia é também um tema sensível.
“As duas questões têm estado muito ligadas, não só por causa da aprovação do financiamento [de ajuda à Ucrânia], mas porque elas têm sido construídas como ideologicamente paralelas. A administração Biden tem esta responsabilidade de ter colocado as duas questões no mesmo pacote, sendo que elas são obviamente muito diferentes”.
Num momento em que a guerra no Médio Oriente já é encarada por muitos como um conflito global - Marcos Faria Ferreira lembra o “agravamento da violência no Cáucaso” - Vladimir Putin vai à China, numa visita que marco o início de um quinto mandato.
“Pequim não pretende uma aliança formal com Moscovo, mas as duas capitais estão em total sintonia quanto aos grandes objetivos de política externa que devem prosseguir. E esses objetivos passam pela resistência a uma ordem Internacional unipolar dirigida pelos Estados Unidos e pelos seus aliados”.
E Portugal, muda algo com a AD?
Questionado sobre se a posição portuguesa na polícia externa pode mudar com o novo Governo, Marco Faria Ferreira frisa que a troca no Executivo “não deverá ter muito impacto”. “A posição do Governo anterior era exatamente a mesma da que este Governo tem sobre sobre o assunto”.
O presidente ucraniano é esperado em Portugal nos próximo dias - a data não foi revelada por razões de segurança - e também deve passar por Espanha.
“Zelensky já tem ido a outros países tentar garantir o mesmo tipo de acordos bilaterais. Acho que é, antes de mais, o sinal de que o conflito se vai prolongar (...) Sabemos que na União Europeia, e também na NATO, alguns obstáculos são colocados para oferecer garantias mais concretas de ajuda militar e financeira à Ucrânia, pelo que, através da via bilateral, a Ucrânia pretende construir essa teia de garantias”.
“O ponto fraco” da Ucrânia
No entanto, chegar a acordos não é sinónimo de uma melhora significativa no panorama ucraniano. O professor de Relações Internacionais lembra que “é muito fácil aprovar o envio de armas quando essas não estão em condições, como tem feito a Itália”.
“Outra coisa é mobilizar um acordo, por exemplo, para o envio de tropas. A falta de tropas é o grande problema com que a Ucrânia se está a confrontar e vai continuar a confrontar-se. É o grande ponto fraco”.