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Israel-Hamas: seis meses do capítulo mais violento de décadas de guerra e conflito

Completam-se este domingo seis meses do inicio dos combates entre Israel e o Hamas, o capítulo mais recente e sangrento de décadas de guerra e conflito entre israelitas e palestinianos no Médio Oriente.

Tanques israelitas em Kibutz Beeri, no sul de Israel, após ataque do Hamas
VIOLETA SANTOS MOURA

SIC Notícias

A 7 de outubro de 2023, o movimento islâmico palestiniano Hamas lançou um ataque sem precedentes contra Israel.

Foram lançados milhares de rockets contra o território israelita e militantes islâmicos furaram barreiras e entraram em comunidades perto da Faixa de Gaza, matando residentes e fazendo cerca de 253 reféns.

Mais de 1.200 pessoas morreram e Israel declarou estado de guerra e respondeu com uma campanha militar na qual já foram mortos mais de 33 mil palestinos.

Este domingo, completa-se seis meses do inicio dos combates entre Israel e o Hamas, o capítulo mais recente e sangrento de décadas de guerra e conflito entre israelitas e palestinianos no Médio Oriente.

Origens do Conflito

O conflito opõe a vontade de Israel, que quer garantir a sua segurança numa região que há muito tempo considera hostil, e as aspirações palestinianas de ter um Estado próprio.

O fundador de Israel, David Ben-Gurion, proclamou a independência do Estado de Israel a 14 de Maio de 1948, estabelecendo um refúgio para judeus que fugiam da perseguição e que procuravam uma pátria, num território onde teriam criado laços profundos ao longo de várias gerações.

Os palestinianos lamentam a criação de Israel. Chamam-lhe a Nakba, ou “catástrofe”, palavra para designar o seu êxodo forçado após a criação de Israel — que resultou na desagregação do território e dificultou a pretensão palestiniana de ter um Estado próprio.

Na guerra que se seguiu, cerca de 700 mil palestinianos, metade da população árabe da Palestina sob domínio britânico, fugiram ou foram expulsos das casas, acabando na Jordânia, Líbano e Síria, bem como em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

Israel, um aliado próximo dos Estados Unidos, contesta a afirmação de que expulsou os palestinianos e salienta que foi atacado por cinco Estados árabes no dia seguinte à sua criação. Os combates cessaram com os acordos de armistício, em 1949, mas nunca houve uma paz formal.

Os palestinianos que permaneceram no território durante a guerra formam atualmente a comunidade árabe-israelita, representando cerca de 20% da população de Israel.

Guerras travadas deste então

Em 1967, Israel lançou um ataque preventivo contra o Egito e a Síria, que deu início à Guerra dos Seis Dias. Israel ocupa desde então a Cisjordânia, Jerusalém Oriental árabe (que era, à época, território da Jordânia) e os Montes Golã, na Síria.

Em 1973, o Egito e a Síria atacaram posições israelitas ao longo do Canal de Suez e nos Montes Golã, dando início à Guerra do Yom Kippur (Dia do Grande Perdão, o dia mais sagrado do ano judaico). Israel repeliu ambos os ataques em três semanas.

Em 1982, Israel invadiu o Líbano. Milhares de combatentes palestinianos, sob a liderança de Yasser Arafat, foram retirados do território por via marítima, após um cerco de dez semanas. Em 2006, eclodiu uma nova guerra no Líbano, quando militantes do Hezbollah capturaram dois soldados israelitas e Israel retaliou.

Em 2005, Israel retirou-se de Gaza, território que tinha ocupado ao Egito em 1967. No entanto, Gaza testemunhou graves recrudescências de violência em 2006, 2008, 2012, 2014 e 2021, que envolveram ataques aéreos israelitas e disparos de rockets palestinianos, e, por vezes, incursões transfronteiriças de ambos os lados.

Além das guerras, houve duas “revoltas” palestinianas entre 1987 e 1993 e, novamente, entre 2000 e 2005. A segunda incluiu uma série de ataques suicidas do Hamas contra israelitas.

Tentativas para alcançar a paz

Em 1979, o Egito e Israel assinaram um tratado de paz em Washington, EUA​, pondo um ponto final a 30 anos de hostilidade. Em 1993, o primeiro-ministro israelita Yitzhak Rabin e o líder palestiniano Yasser Arafat apertaram as mãos no âmbito dos Acordos de Oslo que limitavam a autonomia palestiniana. Em 1994, Israel assinou um tratado de paz com a Jordânia, no posto fronteiriço do Aravá, na presença do Presidente dos EUA à época, Bill Clinton.

Durante a Cimeira de Camp David (EUA) em 2000, o Presidente Bill Clinton, o primeiro-ministro israelita Ehud Barak e Arafat não conseguiram alcançar um acordo de paz.

Em 2002, um plano árabe propôs a Israel relações normais com todos os países árabes em troca de uma retirada completa dos territórios que conquistou na guerra do Médio Oriente em 1967, a criação de um Estado palestiniano e uma “solução justa” para os refugiados palestinianos.

Os esforços de paz entre Israel e a Palestina têm estado estagnados desde 2014, quando as negociações entre israelitas e palestinianos, em Washington, falharam.

Posteriormente, os palestinianos boicotaram as relações com a Administração de Donald Trump, por ter revertido décadas de política externa dos EUA, ao recusar apoiar a solução de dois Estados — a fórmula de paz que prevê a criação de um Estado palestiniano nos territórios que Israel ocupou em 1967.

Esforços atuais para alcançar a paz

Atualmente, o Qatar e o Egito têm atuado como mediadores na guerra, tendo já garantido uma trégua que durou sete dias, durante os quais reféns detidos pelo Hamas foram trocados por prisioneiros detidos por Israel, e mais ajuda humanitária chegou até Gaza.

No entanto, foi uma trégua insuficiente e novas conversações sobre uma nova trégua têm surgido, contudo até agora revelaram-se ineficazes, com Israel a insistir que discutirá apenas uma pausa temporária nos combates e o Hamas a dizer que não libertará reféns sem um acordo que preveja o fim da guerra.

A administração do Presidente dos EUA, Joe Biden, tem se concentrado na tentativa de garantir um “grande acordo” no Médio Oriente que inclua a normalização das relações entre Israel e a Arábia Saudita, a guardiã dos dois locais mais sagrados do Islão. Mas Riade diz que isso exigiria progressos no sentido da criação de um Estado palestiniano independente, algo que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, descartou.

Motivos pelos quais se mantém a disputa entre Israel e a Palestina

Uma solução de dois Estados, as resoluções israelitas, o estatuto de Jerusalém e os refugiados são alguns dos temas em disputa.

  • Uma solução de dois Estados: um acordo que criaria um Estado para os palestinianos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, ao lado de Israel. O Hamas rejeita a solução de dois Estados e jurou a destruição de Israel. Israel declarou que um Estado palestiniano deve ser desmilitarizado para não representar uma ameaça a Israel;

  • Colonatos: a maioria dos países considera ilegais os colonatos judeus construídos em terras que Israel ocupou em 1967. Israel contesta e invoca laços históricos e bíblicos com a terra. A expansão contínua dos colonatos é uma das questões mais controversas entre Israel, os palestinianos e a comunidade internacional;

  • Jerusalém: os palestinianos querem que Jerusalém Oriental, que inclui locais sagrados para muçulmanos, judeus e cristãos, seja a capital do seu Estado. Israel afirma que Jerusalém deve permanecer a sua capital “indivisível e eterna”. A reivindicação israelita da parte oriental de Jerusalém não é reconhecida internacionalmente. Trump reconheceu Jerusalém como a capital de Israel — sem especificar a extensão da sua jurisdição na cidade disputada — e transferiu a embaixada dos EUA para lá em 2018;

  • Refugiados: atualmente, cerca de 5,6 milhões de refugiados palestinianos — principalmente descendentes dos que fugiram em 1948 — vivem na Jordânia, Líbano, Síria, na Cisjordânia ocupada por Israel e na Faixa de Gaza. De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros palestiniano, cerca de metade dos refugiados registados permanece apátrida, muitos vivendo em campos sobrelotados.

Os palestinianos há muito que exigem que os refugiados possam regressar, juntamente com milhões dos seus descendentes. Israel diz que qualquer restabelecimento de refugiados palestinianos deve ocorrer fora das suas fronteiras.

Com Reuters

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