Um grupo de crianças ucranianas sobreviventes da guerra irá discursar esta sexta-feira numa sessão privada do Conselho de Segurança da ONU.
Segundo o jornal The Guardian, os discursos partem de um esforço de Kiev para lembrar aos americanos os custos humanos da guerra cada vez mais afetada pela política interna dos EUA.
Kira de 14 anos e Ilya de 11, naturais de Mariupol, são duas das crianças que irão discursar esta sexta-feira. A esperança é que as suas histórias pessoais tenham algum impacto nos republicanos numa altura em que o pacote de ajuda militar à Ucrânia está paralisado na Câmara dos Representantes (câmara baixa do Congresso norte-americano).
O procurador-geral da Ucrânia estima que 528 crianças foram mortas desde que a invasão em grande escala começou, há quase dois anos, e 2.134 estão desaparecidas. Acredita-se que outros 19.500 tenham sido raptados e levados para a Rússia, tendo alguns sido reeducados à força com uma “educação patriótica e militar pró-Rússia”, afirmou um relatório dos EUA.
O Tribunal Penal Internacional de Haia emitiu mandados de detenção para Vladimir Putin e para a comissária russa para os direitos da criança, Maria Lvova-Belova, em Março de 2023, argumentando que havia motivos para suspeitar que eram responsáveis pela “deportação ilegal” de milhares de crianças.
Kira e Ilya vão destacar a situação das crianças raptadas
Em entrevista ao The Guardian, Kira contou que passou cerca de um mês abrigada, escondendo-se em casas, porões e até numa igreja.
A jovem de 14 anos, primeiro fugiu para casa do avô e depois com o pai, Yevhen Obedinskyi, e mais alguns membros da família para “um bairro barulhento”, onde “durante cerca de uma semana e meia, as explosões foram ouvidas cada vez mais” e a comida, eletricidade e a água eram escassas.
O pai da jovem acabou por ser morto nesse bairro por "russos que atiravam nas janelas” e ela e a restante família tiveram que fugir para um porão. Depois de algumas semanas de desespero, a menina e os restantes membros da família tentaram fugir de Mariupol, mas foram intercetados e capturados por separatistas pró-Rússia.
Kira foi resgatada pelo avô, que travou uma batalha de dois meses para trazê-la de volta à Ucrânia, o que o envolveu numa perigosa viagem a Donetsk. Agora vivem em Chernivts uma cidade segura na zona ocidental.
“Quero que as crianças numa situação semelhante à minha, que foram raptadas pela Rússia, regressem à Ucrânia para junto das suas famílias”, garante a jovem alertando que existe uma petição, que espera que todos assinem, apelando à ONU para exigir que a Rússia repatrie todas as crianças raptadas.
A ideia de partilhar relatos como o de Kira é “aumentar a consciencialização sobre a luta da Ucrânia pela democracia e pela liberdade através de histórias humanas”, disse Mariette Hummel, da Builders Ukraine, uma ONG que faz campanha para que o Ocidente continue a apoiar a Ucrânia, e ajudou a organizar a visita das crianças ao Conselho de Segurança da ONU.
À semelhança de Kira, também Ilya, de onze anos, disse que estava ansioso para ir aos EUA para contar a sua história e o que tinha passado. As histórias de ambos os jovens são semelhantes.
Ilya perdeu a sua mãe durante um bombardeamento enquanto fugiam. Os estilhaços de uma explosão atingiram-na e os ferimentos foram fatais. Na época ele tinha nove anos.
O jovem foi capturado por soldados russos pouco depois e acabou num hospital de Donetsk. Foi resgatado pela sua avó Olena no dia em que completava 10 anos.