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Yulia, a mulher que nunca abandonou Alexei Navalny

Filha de um cientista e de uma funcionária do Kremlin, a história de Yulia cruza-se com a de Alexei Navalny em 1998, numas férias na Turquia. Depois disso, nunca mais se separariam, até à morte do ativista russo, na semana passada.

Anadolu

SIC Notícias

Nascida em junho de 1976, filha de um cientista e de uma funcionária do Kremlin, Yulia tornou-se agora um dos rostos da luta contra a opressão na Rússia, depois do seu marido, Alexei Navalny, ter morrido na prisão.

Mas, afinal, quem é esta mulher?

Yulia formou-se em economia numa prestigiada universidade russa e trabalhou depois num banco em Moscovo. A sua história com Alexei Navalny começa em 98, numas férias na Turquia. Ela, uma jovem bancária, ele um jovem advogado.

Impressionado pela capacidade de Yulia de saber enumerar todos os ministros russos, Alexei acabaria por casar com esta dois anos depois.

Yulia abandonou a carreira para ficar em casa a tomar conta dos filhos do casal, nascidos em 2001 e 2008, Daria e Zakhar, mas continuaria a apoiar Navalny nas suas frequentes campanhas públicas e muitos julgamentos em tribunal.

"Estes sacanas nunca verão as nossas lágrimas”, disse Yulia em 2013, depois de o marido ser condenado a cinco anos de prisão por desvio de fundos.

Mas, graças aos muitos protestos, Navalny foi libertado no dia seguinte e a condenação foi suspensa. Yulia seguiria sempre ao seu lado, mesmo nos momentos ainda críticos.

O envenenamento

Quando Navalny foi envenenado, em agosto de 2020, Yulia foi essencial no processo de transporte do marido para um hospital alemão, onde foi tratado para o que mais tarde se viria a descobrir ter sido uma tentativa de envenenamento.

A mulher escreveu e enviou uma carta diretamente para o Kremlin, onde exigiu permissão para que o marido pudesse sair da Rússia. Na altura, o Kremlin disse que nunca recebeu a carta, mas que tinha sabido da sua existência pelas redes sociais.

Os médicos tentaram travar a transferência para o hospital alemão, alegando o estado crítico em que se encontrava Navalny, mas dois dias depois um avião preparado por uma ONG alemã estava pronto para fazer o transporte do opositor russo.

O apoio inabalável de Yulia ao marido acabou, várias vezes, com esta detida. Em janeiro de 2021 chegou mesmo a ser detida duas vezes, ambas em comícios de apoio a Navalny depois de este ter sido detido no regresso à Rússia.

O lado negro do ativismo político

A pressão do Kremlin sobre o marido nem sempre foi fácil de gerir para Yuia. Em 2017, Navalny disse à Reuters que os serviços de segurança russos estavam a seguir a mulher e os filhos, na altura com 15 e 9 anos.

“Os carros estão constantemente a passar. Eu já nem presto atenção, mas a Yulia está muito incomodada”, disse Navalny na altura.

"A principal sensação que eu tinha era que não podia relaxar, mostrar fraqueza", disse Yulia numa entrevista realizada na Alemanha após o envenenamento do marido. “Se eu me desmoronar, toda a gente se desmorona.”

O que se segue?

Depois da morte de Navalny na prisão, Yulia gravou uma mensagem em vídeo onde garantiu que irá continuar o trabalho do marido. Atualmente fora do país, Yulia garante-se empenhada em construir uma “Rússia livre”, mas não revelou ainda os seus planos para o futuro.

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