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Bombardeamentos intensificam-se em Gaza e Irão alerta para risco de "explosão incontrolável"

Ataques concentram-se sobretudo na zona de Khan Younis, no sul do enclave. Pelo menos 13 pessoas da mesma família morreram num dos bombardeamentos, numa altura em que se somam reações ao veto dos EUA à resolução da ONU que exigia um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza.

IBRAHEEM ABU MUSTAFA/REUTERS

Cláudia Machado

SIC Notícias

Os bombardeamentos intensificaram-se este sábado na Faixa de Gaza, sobretudo na região sul, em Khan Younis. Segundo avança a Al-Jazeera, pelo menos 13 pessoas da mesma família morreram num dos ataques. Já em Rafah, duas casas foram atingidas, provocando a morte a dez pessoas.

O Hamas afirma que, nas últimas 24 horas, mais de 300 pessoas perderam a vida em bombardeamentos israelitas na Faixa de Gaza, elevando o total de vítimas mortais para 17.500 desde o início do conflito, a 7 de outubro.

Este agravamento do conflito acontece numa altura em que se somam reações à decisão dos Estados Unidos de vetar um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU que exigia um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza, apesar do apelo inédito lançado pelo secretário-geral da organização, António Guterres.

Irão alerta para possibilidade de "uma explosão incontrolável" no Médio Oriente

O Irão alertou também este sábado para a possibilidade de "uma explosão incontrolável" no Médio Oriente se os Estados Unidos continuarem a apoiar Israel na guerra contra o grupo islamita palestiniano Hamas em Gaza.

"Enquanto os Estados Unidos apoiarem os crimes do regime sionista e a continuação da guerra (...) existe a possibilidade de uma explosão incontrolável da situação na região", afirmou o chefe da diplomacia iraniana.

O alerta de Hossein Amir-Abdollahian foi feito durante uma conversa telefónica com o secretário-geral da ONU, António Guterres, segundo um comunicado divulgado pelo ministério em Teerão e citado pela agência francesa AFP.

A troca de impressões teve lugar depois de os Estados Unidos terem vetado, na sexta-feira, uma resolução do Conselho de Segurança que apelava para um "cessar-fogo humanitário imediato" no território palestiniano da Faixa de Gaza.

A resolução, preparada pelos Emirados Árabes Unidos, recebeu 13 votos a favor, um contra e uma abstenção (Reino Unido).

O Irão é um dos principais apoiantes internacionais do Hamas, que lançou um ataque sangrento em solo israelita em 7 de outubro, no qual morreram 1.200 pessoas, segundo as autoridades israelitas.

Estados Unidos insistem no direito à defesa de Israel

Os Estados Unidos justificaram o veto insistindo que Israel tem direito a defender-se, depois do ataque de 7 de outubro. O embaixador norte-americano nas Nações Unidas sublinhou mesmo que um cessar-fogo imediato não vai trazer paz à região.

"Não apoiamos uma resolução que apela a um cessar-fogo insustentável, que simplesmente plantará as sementes da próxima guerra", justificou o representante norte-americano na ONU, Robert Wood, denunciando também o "fracasso moral" da ausência de uma condenação específica no texto dos ataques de 07 de outubro perpetrados pelo Hamas.Wood disse ainda que o projeto era "precipitado", "desequilibrado e divorciado da realidade", e criticou o facto de as recomendações norte-americanas terem sido "ignoradas" durante o processo de consultas.

Embaixador palestiniano considera desastrosa posição dos EUA

O representante palestiniano nas Nações Unidas, Riyad Mansour, declarou que este “é um ponto de viragem na História e é mais do que lamentável”, considerando desastrosa a posição dos Estados Unidos.

“Rejeitamos este resultado e continuaremos a recorrer a todas as vias legítimas para pôr fim a estas atrocidades abomináveis”, afirmou.

Mansour acusou ainda o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, de procurar sobreviver politicamente à custa dos ataques e bombardeamentos na Faixa de Gaza.

"A pessoa que lidera este ataque sacrificaria o povo palestiniano e israelita pela sua sobrevivência política egoísta e é um inimigo declarado da solução de dois Estados. Toda a sua vida foi dedicada à aniquilação do povo palestiniano", afirmou Mansour perante o Conselho de Segurança da ONU.

O embaixador sublinhou que o primeiro-ministro israelita procurou uma "oportunidade" política para "acabar com as aspirações nacionais do povo palestiniano".

"Esta é a guerra de Netanyahu. Esta é a guerra da coligação mais extremista que permanece no poder em Israel", advogou.

"Devemos fingir que não sabemos que o objetivo é a limpeza étnica da Faixa de Gaza?", questionou o diplomata, acrescentando que qualquer país que se opõe à destruição e à deslocação forçada da população palestiniana deve ser a favor de um cessar-fogo.

Neste sentido, apelou aos Estados-membros para que acordem e não se deixem enganar por Israel, que continua a "brincar" com os países, obrigando-os a discutir, entre outras coisas, o número de camiões com ajuda humanitária que entram em Gaza.

Israel acusa ONU de “seguir o guião” do Hamas

O embaixador de Israel junto da ONU reagiu também à resolução apresentada por António Guterres, que exigia um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza, acusando as Nações Unidades de viabilizarem dessa forma o plano do Hamas.

“O Hamas é a causa principal da situação em Gaza, mas não há qualquer responsabilização pela sua maldade”, criticou Gilad Erdan, perguntando: “Porque é que o Hamas não é totalmente responsabilizado pela ONU e pelos seus organismos?”

O representante israelita exigiu ainda que “digam a verdade aos habitantes de Gaza” e sublinhou que “o Hamas tem um guião bem explícito” e que a ONU, ao pedir um cessar-fogo, está “a seguir esse guião”.

Também o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Eli Cohen, dirigiu críticas a António Guterres, em publicações nas suas redes sociais.

"O apelo de Guterres, ao colocar-se ao lado do Hamas e solicitar um cessar-fogo, desonra a sua posição", declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Eli Cohen, na rede social X.

O ministro israelita declarou que "a invocação do artigo 99, após este não ter sido utilizado para a guerra na Ucrânia ou (...) na Síria, é mais um exemplo da posição parcial e unilateral de Guterres".

"Um cessar-fogo neste momento evitaria o colapso da organização terrorista Hamas, que está a cometer crimes de guerra e crimes contra a humanidade, permitindo-lhes continuar a governar a Faixa de Gaza", alertou.

Cohen expressou gratidão aos Estados Unidos "pelo seu apoio na continuação da luta para trazer os reféns para casa e eliminar a organização terrorista Hamas, o que trará um futuro melhor para a região".

Com agências

[Notícia atualizada às 10:30]

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