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Israel: afinal, já começou ou não a invasão de Gaza?

Parecia uma invasão, soava a invasão, tinha elementos de uma invasão. Mas não foi nem esteve para ser a aguardada invasão terrestre da Faixa de Gaza. Foi uma incursão militar das forças de Israel em maior escala. Perceba o que aconteceu na noite mais pesada deste conflito.

VIOLETA SANTOS MOURA

Ricardo Costa

O que se passou na noite de sexta para sábado?


Tecnicamente, foi uma incursão militar e não uma invasão. A primeira significa sempre que os meios militares envolvidos entram e saem do território; a segunda representa uma entrada com fixação total ou parcial dos meios envolvidos. Assim, do ponto de vista militar – e mesmo político –, é falso afirmar que os acontecimentos de ontem foram o início da invasão terrestre da Faixa de Gaza por parte de Israel. Aliás, Israel já invadiu mais do que uma vez Gaza na sua história e é fácil constatar são coisas diferentes.



Se não foi uma invasão, foi o quê?


Uma incursão militar com meios mais pesados, acompanhada de bombardeamentos aéreos e navais muito mais intensos. Além das informações oficiais de Israel, também o Hamas afirmou que houve intensos combates terrestres na Faixa de Gaza, que o movimento controla desde 2006. Tanto o reconhecimento da “expansão” da incursão com mais meios terrestres por parte de Israel como as declarações oficiais do Hamas confirmam que a incursão desta noite teve uma escala muito mais pesada que as anteriores.



Já estamos na Fase 2 da guerra ou ainda na Fase 1?


Esta é a principal dúvida. Há mais de uma semana que Israel anunciou que a sua operação militar terá três fases: uma de preparação para a invasão terrestre, assente em bombardeamentos e incursões; a segunda, passará por uma invasão terrestre com consolidação de controlo territorial; e uma terceira de isolamento total de Gaza, para preparar uma posterior saída do território com garantia de que Israel não volta a ser atacada pelo Hamas. Teoricamente é mais provável que estejamos numa intensificação da Fase 1 e não no início da fase 2. Mas é natural que em operações militares complexas não seja fácil distinguir as diferentes fases.



Porque é que a invasão terrestre tem sido adiada?


As razões são várias e de diferente natureza. Em primeiro lugar, há negociações a decorrer com o Qatar como intermediário para a libertação de reféns, um tema particularmente sensível para a opinião pública israelita, sendo que há reféns de inúmeras nacionalidades. Depois, a pressão internacional para que se evite uma catástrofe humanitária tem sido imensa, sendo natural que Israel queira minorar as baixas civis numa futura invasão. Por fim, os EUA e outros parceiros internacionais têm chamado a atenção para o facto de a operação militar não estar devidamente preparada, para os imensos riscos da guerra urbana e para ausência de uma estratégia para o chamado “dia seguinte”. Essa tem sido a principal mensagem pública de Joe Biden, lembrando os erros dos EUA no Afeganistão ou no Iraque, onde, por exemplo, as tropas americanas demoraram 9 meses a tomar a cidade de Mossul, controlada pelo Estado Islâmico.


Deve ou não acabar por haver uma invasão terrestre?


Provavelmente, sim. Para cumprir os objetivos militares e políticos que tem declarado, Israel precisará sempre de uma invasão terrestre com controlo de parte do território. Sem isso não conseguirá eliminar a estrutura política e militar do Hamas, bem como as suas instalações e equipamentos, nomeadamente a destruição da rede de túneis e a eliminação do seu armamento mais sofisticado, como as armas anti-tanque. Os bombardeamentos aéreos e navais, mesmo combinados com incursões mais pesadas, não servem para cumprir os objetivos declarados, pelo que a invasão terrestre só deixará de existir se houver uma enorme revisão dos objetivos políticos e militares da guerra declarada por Israel ao Hamas.

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