Ana Cancela é guia Turística para o Médio Oriente e há dez anos que viaja com grupos de turistas para Israel e Cisjordânia. Em entrevista à SIC Notícias relata a última viagem que fez em março deste ano, com um grupo de 11 turistas. “Um grupo de homens palestinianos, que falavam em árabe e inglês com um tom muito violento, começaram a dirigir-nos ameaças”
“Éramos onze de nacionalidade portuguesa e uma viajante de nacionalidade alemã. Antes da viagem eu sabia que já havia tensão, tanto em Israel como na Cisjordânia, sobretudo motivada por manifestações e protestos contra a forma judicial do Governo de [Benjamin] Netanyahu”, explica.
Todos os elementos deste grupo estavam avisados e, segundo a Ana, a viagem aconteceu nos moldes habituais.
“No momento em que estava a aterrar, ainda não tinha saído do avião e já tinha uma notificação no telemóvel, de um atentado que tinha acontecido a poucos metros do nosso hotel", conta.
Segundo Ana Cancela, o grupo turístico fez a viagem desde o norte de Israel até ao Mar Morto.
“Portanto visitámos Acre, Jerusalém, Tel Aviv, Haifa e Mar Morto, e incluiu também a visita a Belém já na Cisjordânia. E foi aí que aconteceu algo que não estava à espera. A partir do momento em que fomos de autocarro desde Jerusalém Oriental para Belém, portanto já em território controlado pela Cisjordânia.
A partir do momento em que nós os 12 saímos do autocarro, fomos imediatamente cercados por um grupo de homens palestinianos, que falavam em árabe e inglês, e com um tom muito violento começaram a dirigir-nos ameaças, cercando-nos. Foi algo que nas mais de 10 vezes que visitei este território nunca tinha acontecido", explica.
Relatos dos amigos
Ana conta que tem sido difícil manter o contacto com alguns dos amigos que tem nos territórios de Israel e Cisjordânia.
“É tudo muito doloroso, porque não tenho só amigos israelitas. Tenho na Cisjordânia e também em Gaza, e tem sido muito duro porque ligam-se a chorar”, afirma.
“Tenho amigos a viver em Haifa e mais perto da fronteira com o Líbano, que estão sempre, permanentemente, nos abrigos. Em Haifa tenho falado com pessoas que se queixam também dos ataques dos rockets perpetrados pelos membros do Hezbollah. Na Cisjordânia é sobretudo de medo”, acrescenta.
“O mais dramático serão as pessoas com quem tenho pouco contacto por causa da dificuldade de contacto. Há pouca rede em Gaza e o pouco que sei é uma situação extremamente dramática porque não sabem o que vai acontecer no dia seguinte”, conclui.