É num fogão a lenha que voluntários palestinianos cozinham para receber, em Khan Younis, aqueles que chegam, sem nada e com fome, vindos do norte da Faixa de Gaza. A cidade, no sul do enclave, é a última grande localidade antes de Rafah, onde fica a fronteira com o Egito e onde se concentra agora a maior parte dos deslocados, que seguiram a ordem de evacuação do exército israelita.
“Fomos deixados sem nada, não há gás, então cozinhamos com fogo para pessoas que não têm como pagar por comida ou bebida. Os civis só querem viver. Algumas pessoas já nos abordaram enquanto cozinhamos e disseram-nos que não comiam há quatro dias”, conta Ibrahim Abu Asi, um dos voluntários.
Rapidamente, Khan Younis começa também a ser aquilo que as Nações Unidas descrevem como o abismo, apesar de Israel ter anunciado este domingo que reabriu, parcialmente, o abastecimento de água na Faixa de Gaza, após um apelo do governo norte-americano.
E, ainda que fique fora da zona que recebeu o ultimato de Israel, a cidade não escapou aos bombardeamentos, o mais recente este sábado.
Hospital em “situação catastrófica”
O segundo maior hospital da Faixa de Gaza fica precisamente nesta cidade, que acolhe agora milhares de palestinianos em fuga. A unidade está a atingir condições desesperantes, com falta de material e equipas médicas para tratar todos os feridos.
“Enfrentamos uma situação catastrófica. Estou em contacto com uma das unidades de cuidados intensivos, que está completamente lotada com feridos. A maioria crianças, com menos de três anos. Nos últimos oito dias, temos recebido centenas de pessoas gravemente feridas. Chegam ao hospital sobretudo com lesões causadas por explosões”, descreve Mohammed Qandeel, médico do Hospital Nasser.
O hospital adicionou mais camas ao serviço de cuidados intensivos, mas mesmo esta medida pode não ser suficiente para salvar todas as vidas.
“Precisamos que a guerra acabe. Precisamos de um cessar-fogo Precisamos de transferir estes pacientes para outro hospital. Numa situação de desastre, normalmente a ajuda chega de países vizinhos. Nós não recebemos ajuda. E este é um desastre com mão humana”, desabafa o profissional de saúde.