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Visita de Lula da Silva "volta a colocar Portugal na rota diplomática do Brasil"

A análise da vinda de Lula da Silva a Portugal e das relações socioeconómicas futuras do Brasil por Karim Quintino, investigador da Universidade Católica e especialista em Política e Relações Internacionais.

SIC Notícias

Karim Quintino, investigador da Universidade Católica e especialista em Política e Relações Internacionais, analisa o simbolismo e a importância da vinda do Presidente do Brasil ao território luso e ainda os objetivos das políticas do sucessor de Jair Bolsonaro.

Lula da Silva está em Portugal desde a passada sexta-feira em visita oficial, de forma a estabelecer acordos e a reaproximar as duas pátrias.

Nesse sentido, o investigador começa por realçar que a visita de Lula da Silva tem sido "muito importante por uma razão: Volta a colocar Portugal na rota diplomática do Brasil", depois de quatro anos de afastamento entre as duas nações.

Karim Quintino acrescenta que a presença do chefe de Estado brasileiro tem importância acrescida pelo simples facto de ter permitido a assinatura de vários acordos em "áreas que impactam diretamente na vida dos emigrantes portugueses e brasileiros".

Portugal: “um canal de comunicação” para o Brasil

Segundo o especialista, Lula da Silva vê Portugal, para além de um país "amigo e irmão", como "um canal de comunicação e de reaproximação com a União Europeia".

A visita do Presidente brasileiro termina esta terça-feira, dia 25 de abril, um dia que será marcado por protestos contra o líder do Brasil, motivados pelas suas posições em relação à guerra na Ucrânia, perspetiva Karim Quintino.

Relativamente à questão do conflito, o investigador acredita que Lula vai "tentar fazer o que tem feito nesta viagem [a Portugal]: desviar um pouco do assunto".

"Lula quando diz o que disse, estava na China, tinha acabado de firmar vários acordos multimilionários, tem também uma relação comercial com a Rússia muito importante para o agronegócio do Brasil e, portanto, tudo isto leva Lula a afirmar o que afirmou", refere.

No entanto, a posição de Portugal, enquanto membro da União Europeia, difere da adotada pelo Brasil, vinca o especialista.

"O Brasil está de volta ao mundo"

"O Brasil está de volta ao mundo": citando Lula da Silva, o investigador esclarece que o líder brasileiro "tenta restabelecer a imagem do Brasil na cena internacional, que foi de certa forma perdida com o mandato de Jair Bolsonaro".

O antigo chefe de Estado do Brasil já disse que a política de Lula passa por desfazer o que feito por Bolsonaro, o que Lula "aceita com agrado", acredita o especialista.

"O Governo de Bolsonaro tinha uma ideia de política externa completamente diferente da tradição do Itamaraty [Ministério das Relações Exteriores brasileiras] em dois aspetos: em primeiro lugar era uma política isolacionista, antiglobalização (...) e, por outro lado, era uma política externa que se baseava em parcerias estratégicas com líderes de extrema direita, o que, progressivamente, foi isolando o Brasil da cena internacional", afirma Karim Quintino.

Questionado se Lula da Silva pode, em oposição, aproximar-se da extrema esquerda, o investigador não acredita que este cenário seja provável, uma vez que o chefe de Estado "quer voltar ao multilateralismo e fá-lo através das viagens que faz".


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