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Líder do exército do Sudão diz que militares estão empenhados numa transição para um governo civil

Numa mensagem vídeo para assinalar o feriado que marca o fim do Ramadão, o mês sagrado de jejum e oração para os muçulmanos, o responsável falava numa altura em que os confrontos continuam.

SIC Notícias

Lusa

O chefe do exército e presidente do Conselho Soberano de Transição no Sudão, general Abdel Fattah al Burhan, afirmou hoje que os militares continuam empenhados numa transição para um governo civil.

"Estamos confiantes de que ultrapassaremos esta provação com a nossa formação, sabedoria e força, preservando a segurança e unidade do Estado, permitindo-nos que nos seja confiada a transição segura para um governo civil", afirmou o responsável, numa mensagem vídeo para assinalar o feriado do Eid al-Fitr que que marca o fim do Ramadão, mês sagrado do jejum e da oração muçulmanos.

Além de ser o primeiro discurso desde que os brutais combates entre as suas forças e os paramilitares do país começaram, há quase uma semana, foi também a primeira vez que Al Burhan foi visto desde que a capital e outras áreas são palco de combates. Desconhece-se quando ou onde foi gravada a mensagem.

"A ruína e a destruição e o som de balas não deixaram lugar para a felicidade que todos merecem no nosso amado país", disse Al Burhan, no discurso.

Na quinta-feira, os militares do Sudão descartaram negociações com as Forças de Apoio Rápido rivais, dizendo que só aceitariam a rendição.

Confrontos mantêm-se apesar da trégua do fim do Ramadão

Os confrontos no Sudão continuam apesar de hoje se celebrar o primeiro dia que põe fim ao mês do Ramadão, tendo-se registado troca de tiros e ataques de artilharia, apesar dos apelos internacionais para o cumprimento da trégua de três dias.

O Sindicato dos Médicos do Sudão disse que ocorreram disparos entre o Exército e as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), os rivais militares que se confrontam desde o sábado passado provocando uma das piores crises da atualidade, no Sudão.

"Pedimos a todos os cidadãos para que tomem precauções, para permanecerem em casa, com as portas e janelas fechadas e que se mantenham deitados no chão. Também pedimos às forças [em confronto] que sejam responsáveis e deixem de lutar em nome da proteção de vidas inocentes", disseram hoje os médicos do Sudão através de um comunicado.

Por outro lado, as RSF acusaram, em comunicado, o Exército de bombardear com artilharia pesada os bairros de Cartum durante o primeiro dia que marca o fim do Ramadão.

Até ao momento, o Exército não se pronunciou sobre as acusações apesar do líder militar Abdelfatah al Burhan ter proferido um discurso a propósito da festa religiosa muçulmana.

"Confiamos que superamos esta terrível experiência com força e sabedoria, de uma forma que preserva a segurança e a unidade do país e que pode permitir assegurar uma transição com vista a um governo civil", disse no primeiro discurso desde o início dos confrontos.

Guterres pede"pelo menos três dias" de trégua

Na quinta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, definiu como "prioridade imediata" no Sudão um cessar-fogo de "pelo menos três dias", tendo em conta o Eid al-Fitr.

No final de uma reunião convocada pela União Africana para abordar a dramática situação no Sudão, na sede da ONU, em Nova Iorque, Guterres disse ter assistido a um forte consenso de todos os participantes em condenar os combates no Sudão e em pedir o fim das hostilidades.

"Como prioridade imediata, apelo a um cessar-fogo de pelo menos três dias, marcando as comemorações do Eid al-Fitr, para permitir que os civis presos em zonas de conflito escapem e procurem tratamento médico, alimentos e outros elementos essenciais", disse o líder da ONU.

"Este deve ser o primeiro passo para uma pausa nos combates e abrir caminho para um cessar-fogo permanente", acrescentou Guterres, no final do encontro que juntou a Liga Árabe, a Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento e a UE, além de representantes de diversos países que "estão profundamente empenhados em resolver a crise".

O chefe da ONU manifestou ainda preocupação com o número de vítimas civis, com a situação humanitária e com a perspetiva de uma nova escalada do conflito.

Dois generais em luta pelo poder

Os confrontos armados entre o exército sudanês e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) começaram no sábado, em Cartum e outros pontos do país.

De acordo com mais recente balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS), os confrontos já causaram pelo menos 330 mortos e 3.200 feridos.

As hostilidades começaram no contexto de um aumento das tensões sobre a reforma do aparelho de segurança e a integração da força paramilitar nas Forças Armadas, parte fundamental de um acordo assinado em dezembro para formar um novo governo civil e reativar a transição.

O processo de conversações começou com mediação internacional, depois de Al Burhan liderar um golpe em outubro de 2021, que derrubou o então primeiro-ministro de Unidade, Abdala Hamdok, nomeado para o cargo como resultado de contactos entre civis e militares, na sequência do motim de abril de 2019, que pôs fim a 30 anos do regime de Omar Hasan al-Bashir.

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