Pelo menos 85 pessoas morreram e 322 ficaram feridas numa debandada ocorrida em Saná, capital dos rebeldes Huthis no Iémen, disseram hoje fontes médicas à agência noticiosa AFP.
"Oitenta e cinco pessoas foram mortas e mais de 322 ficaram feridas" numa debandada durante um evento de caridade organizada no distrito de Bab el Iémen, disse uma fonte de segurança em Sanaa.
Esta avaliação foi confirmada por um funcionário das autoridades médicas rebeldes, revela a AFP.
"Mulheres e crianças estão entre os mortos", e cerca de 50 feridos estão em estado grave, disse a fonte de segurança, que pediu anonimato porque não está autorizada a falar com os media.
Disparos e explosão elétrica semearam o pânico
O incidente verificou-se na Cidade Velha, no centro de Saná, quando centenas de pessoas pobres se reuniram num evento organizado por comerciantes, de acordo com o Ministério do Interior Houthi.
O porta-voz do ministério, Abdel-Khaleq al-Aghri, culpou a organização do evento pela "distribuição aleatória" de fundos sem coordenação com as autoridades locais.
A tragédia ocorreu antes do feriado muçulmano de Eid al-Fitr, que marca o fim do Ramadão do mês sagrado islâmico no final desta semana.
Segundo informações recolhidas pela AFP, os rebeldes selaram rapidamente o local onde o evento foi organizado e impediram as pessoas, incluindo jornalistas, de se aproximarem.
Duas testemunhas oculares, Abdel-Rahman Ahmed e Yahia Mohsen, relataram que Huthis armados dispararam para o ar numa tentativa de controlar a multidão, atingindo aparentemente um fio elétrico e provocando a sua explosão. Isso desencadeou o pânico, e as pessoas entraram em debandada.
O Ministério do Interior anunciou que dois organizadores do evento foram detidos e que está em curso uma investigação.
Conflito no Iémen
A capital do Iémen tem estado sob a influência dos Huthis, apoiados pelo Irão, desde que estes desceram do seu reduto norte em 2014 e retiraram o governo internacionalmente reconhecido.
Esta situação levou uma coligação liderada pela Arábia Saudita a intervir em 2015 para tentar restabelecer o governo.
O conflito transformou-se nos últimos anos numa guerra por procuração entre a Arábia Saudita e o Irão, matando mais de 150 mil pessoas, incluindo combatentes e civis, e criando uma das piores catástrofes humanitárias do mundo.
Mais de 21 milhões de pessoas no Iémen, ou seja, dois terços da população do país, precisam de ajuda e proteção, de acordo com o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas. Entre as pessoas necessitadas, mais de 17 milhões são consideradas particularmente vulneráveis.
Em fevereiro, as Nações Unidas afirmaram ter angariado 1,2 mil milhões de dólares de uma meta de 4,3 mil milhões de dólares numa conferência destinada a gerar fundos para atenuar a crise humanitária.