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Suspeita de matar blogger pró-Putin admite transporte de bomba

Na sequência do ataque, o porta-voz de Vladimir Putin acusa Kiev de um “ato de terrorismo”, ao que a Ucrânia responde tratar-se de uma “farsa criada pelo Kremlin.”

ANTON VAGANOV

SIC Notícias

Lusa

Uma jovem detida, esta segunda-feira, na Rússia admitiu ter trazido o dispositivo explosivo que matou domingo um 'blogger" militar pró-russo em São Petersburgo, atentado que Moscovo atribui aos serviços secretos ucranianos, com a cumplicidade de apoiantes do opositor Alexei Navalny.

"Trouxe uma estatueta que explodiu" num café em São Petersburgo, cerca de 700 quilómetros a noroeste de Moscovo, assumiu a jovem, identificada como Darya Tryopova, num vídeo publicado esta segunda-feira, após ter sido detida por elementos do Ministério do Interior russo, desconhecendo-se se a confissão foi feita sob coação.

Questionada pela polícia sobre quem lhe entregou a bomba, Darya Tryopova, que os investigadores apresentaram como uma cidadã russa e ativista do Fundo Anticorrupção de Navalny, ilegalizado na Rússia desde 2021, respondeu que explicaria isso "mais tarde", segundo a agência noticiosa France-Presse (AFP).

As autoridades russas Tinham anunciado pouco antes a detenção de uma jovem suspeita do ataque à bomba que matou no domingo em São Petersburgo o blogger militar russo Vladlen Tatarsky, que é um dos maiores apoiantes de Vladimir Putin.

Da explosão resultaram 32 feridos, oito deles em estado grave.

O atentado levou Moscovo a acusar a Ucrânia

O kremlin diz que o ataque contou com apoiantes de Alexei Navalny, principal opositor do Presidente russo, Vladimir Putin.

"[O ataque] foi planeado pelos serviços secretos da Ucrânia, que recrutaram agentes entre os que colaboram com o chamado Fundo Anticorrupção Navalny", garantiu esta seguda-feira o Comité Antiterrorista da Rússia.

O porta-voz do Presidente russo denunciou, por sua vez, "um ato de terrorismo".

No entanto, no domingo, numa declaração publicada na rede social Twitter, um funcionário da Presidência ucraniana, Mykhailo Podoliak, negou qualquer envolvimento da Ucrânia no atentado, sublinhando acreditar tratar-se de um ato de "terrorismo interno" face às rivalidades prevalecentes dentro do regime russo.

Na sequência disso, a porta-voz da Presidência ucraniana, Kira Larmych, reforçou que relacionar o atentado com Navalny se trata de uma farsa criada pelo Kremlin.

"Alexei será julgado em breve por extremismo, arrisca 35 anos [de prisão]. O Kremlin pensou: é ótimo para o futuro poder somar a acusação de 'terrorismo'", lê-se no comuniado de Larmych, no Twitter.

Segundo a AFP, a Rússia está a reprimir "impiedosamente" os críticos de Putin, sobretudo aqueles que estão contra a intervenção militar na Ucrânia. Apesar disso, a agência noticiosa estatal russa TASS, alega que a jovem detida era conhecida dos tribunais por ter estado presa durante dez dias depois de se manifestar contra a ofensiva militar russa na Ucrânia.

As declarações de Yevgeny Prigozhin, oligarca russo, sobre os acontecimentos de domingo parecem querer descartar qualquer responsabilidade dos serviços secretos ucranianos.

"Não vou acusar o regime de Kiev por esses atos. Acho que está em ação um grupo de radicais", disse Yevgeny Prigozhin no canal do Grupo Wagner na plataforma Telegram.

No domingo à noite, Prigozhin prestou uma homenagem ao blogger num vídeo aparentemente filmado na cidade de Bakhmut, epicentro dos combates no leste da Ucrânia.

Sobre o blogger, vítima do atentado no café em São Petersburgo

Vladlen Tatarsky, tinha 40 anos e era natural do Donbass, região do leste da Ucrânia que está também no centro do conflito. O Homem deslocava-se com frequência à frente de combate do lado russo e tinha mais de meio milhão de seguidores no seu canal na plataforma Telegram.

Segundo a imprensa russa, Tatarsky tinha sido preso na Ucrânia em 2011, aparentemente por um assalto, sem que tivessem sido avançadas mais informações. Já em 2014, na sequência dos confrontos desencadeados no leste da Ucrânia por separatistas liderados por Moscovo, o apoiante de Putin conseguiu fugir da prisão para se juntar aos combatentes.

Em 2019, deixou as forças separatistas, segundo o diário Kommersant, para se destacar, a partir daí, como blogger.

Em setembro de 2022, numa receção no Kremlin, Tatarsky comemorou de forma efusiva a anexação unilateral de quatro regiões ucranianas (Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia) com palavras que, contudo, chocaram os presentes.

"Vamos derrotar todos, vamos matar todos, vamos roubar todas as pessoas de que precisamos, tudo será como queremos", afirmou então perante as câmaras.

A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

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