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Lula da Silva contra opositores, lobbies e interesses privados no seu novo Governo

Lula da Silva toma posse este domingo como 39.º Presidente do Brasil.

Eraldo Peres

Lusa

Ao tomar posse como Presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva enfrentará no seu novo Governo uma oposição ideológica, lobbies e dificuldade para firmar acordos com lideranças políticas obstinadas em manter os seus feudos de poder.

Seguidores de Jair Bolsonaro, que tentou a reeleição presidencial sem sucesso, insistem em negar o resultado das urnas empunhando bandeiras e exaltado ideologias associadas à extrema-direita que se popularizaram no país.

Após a contagem dos votos, os bolsonaristas derrotados pelos lulistas por uma margem apertada de 0,90% (60.345.999 dos votos válidos foram para Lula da Silva e 58.206.354 para Bolsonaro) dividiram-se numa maioria silenciosa que aguarda as oportunidades que certamente virão para criticar o novo Governo e uma minoria caricata que participa de uma resistência organizada fechando estradas e acampando na frente de quartéis do Exército com pedidos ilegais e até mesmo cómicos que variam da instauração de uma ditadura militar, discursos messiânicos e clamores de salvação enviados aos extraterrestres.

Autodeclarados conservadores, patriotas, religiosos e defensores da família - sejam eles bolsonaristas de verde amarelo nas ruas assumidos ou não -- quase metade dos brasileiros está do outro lado de um muro ideológico que precisará ser demolido tijolo a tijolo por Lula da Silva e seus aliados para que alcance algum sucesso na governação do país, especialmente na baixa classe média que ascendeu com os primeiros mandatos do líder progressista e que este domingo o rejeita por diferentes motivos.

A ideologia também motiva uma parcela grande de lideranças e integrantes do agronegócio brasileiro, que mantém um dos 'lobbies' mais poderosos do país, a rejeitar Lula da Silva, um expoente da esquerda associado a grupos que defendem causas sociais como a reforma agrária e temas de conservação ambiental, embora nos seus dois primeiros mandatos (2003 a 2010) a produção brasileira tenha sido fortemente financiada por bancos públicos e cresceu de 120,03 milhões de toneladas para 144,68 milhões de toneladas, segundo dados de 2003 até 2010 da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), compilados pela plataforma Agrofy.

O deputado Pedro Lupion, escolhido para presidir a bancada ruralista do Congresso a partir de fevereiro de 2023, disse numa conferência de imprensa em meados de dezembro que o agronegócio brasileiro teria uma "preocupação enorme" quanto aos próximos passos do Governo Lula da Silva, citando questões ideológicas e um risco associado aos juros para o financiamento das colheitas.

Outro lobby que representará um desafio ideológico ao líder do Partido dos Trabalhadores está ligado às armas, que promete resistir à intenção do novo Governo de revogar decretos que facilitam o acesso ao armamento no país.

O chamado mercado financeiro e o segmento empresarial também demonstram ceticismo e até mesmo rejeição aos planos até agora apresentados por Lula da Silva e sua equipa económica, que defendem uma maior distribuição de renda e participação do Estado na economia, contrariando a teoria dominante entre os líderes deste setores que fazem uma defesa e uma interpretação local do liberalismo.

Na sociedade civil e no Congresso há também líderes evangélicos neopentecostais que se opuseram a Lula da Silva na eleição presidencial e que prometem manter um tom crítico em defesa das suas plataformas ideológicas.

No Congresso Lula da Silva, que lidera uma federação minoritária de esquerda embora tenha conseguido negociar apoio de três partidos de centro para formar uma base parlamentar, a polarização também tende a dar o tom dos debates e trazer problemas ao Governo já que muitas lideranças da extrema-direita associadas a Bolsonaro terão forte representação nas duas casas do Congresso onde também contam, dependendo do tema, com apoio de parlamentares de partidos de direita e de centro que se declaram moderados.

No plano pessoal, Lula da Silva enfrentará oposição de líderes do chamado centrão cujo expoente maior tende a ser o deputado Arthur Lira, que provavelmente será reconduzido a presidência da Câmara dos Deputados em fevereiro de 2023.

Embora seja considerado um político pragmático, Lira, que apoiou Bolsonaro e controlou parte importante do orçamento federal, tende oferecer resistência a algumas prioridades do Governo.

Com o Presidente Bolsonaro derrotado, o deputado expoente do centrão e seus aliados conta com o apoio de vários parlamentares que pretendem manter na gestão de Lula da Silva, facto que certamente resultará em empecilhos e dificuldade de negociação de muitos planos do líder progressista para áreas como reforma laboral e meio ambiente.

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