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Peru poderá viver aumento de protestos contra destituição de Castillo

A Human Rights Watch (HRW) condenou "categoricamente" a tentativa de Castillo "de minar o Estado de direito no Peru".

Hugo Curotto

Lusa

A situação política no Peru continuará muito tensa devido à destituição do Presidente Pedro Castillo, com um aumento das manifestações num país divido entre os mundos urbano e rural, disse este sábado à Lusa o investigador Pedro Ponte e Sousa.

"A situação política no país é muito tensa e deverá continuar assim", declarou Pedro Ponte e Sousa, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), sobre a crise política instalada após a destituição e prisão do Presidente peruano.

Em 7 de dezembro, Castillo dissolveu o Congresso e declarou que iria governar por decreto, convocar eleições e fazer outras reformas no país. Neste mesmo dia, o Congresso peruano destituiu Castillo, que foi detido e acusado de "rebelião", sendo que permanecerá em prisão preventiva por 18 meses.

A Human Rights Watch (HRW) condenou esta semana "categoricamente" a tentativa de Castillo "de minar o Estado de direito no Peru" e apelou à comunidade internacional para que "apoie as garantias e instituições democráticas no Peru".

A vice-presidente, Dina Boluarte, assumiu a presidência do país, apontando que iria convocar eleições entre 2023 e 2024, mas esta promessa não acalmou os protestos que ocorrem no país desde a detenção de Castillo, que já provocaram 20 mortos e mais de 300 feridos.

Boluarte declarou estado de emergência por 30 dias e deslocou as forças armadas para as ruas, mas para Ponte e Sousa as manifestações populares no Peru poderão aumentar.

"Os protestos surgem sobretudo nas zonas mais pobres do país, populações mais próximas do eleitorado do esquerdista Castillo -- populações pobres, indígenas e rurais. Para além de o país fora de Lima se sentir longe da capacidade de influência governativa, num quadro político altamente centralizado, o Congresso tem baixíssima popularidade (86%) e é percebido, sobretudo fora de Lima, como um antro de interesses particulares e corrupção", declarou o investigador do IPRI.

"Os protestos enquadram-se aqui, entre a exigência de escolherem novos líderes, na Presidência e no Congresso, e a tentativa de não apenas libertar Castillo, mas de o repor no cargo", referiu o académico.

Para Ponte e Sousa, os protestos têm aumentado em escala e violência, num contexto de crescente brutalidade policial, tida como desproporcionada, e até dentro do Congresso já se registou violência entre parlamentares.

A Amnistia Internacional (AI) declarou esta semana que "as autoridades peruanas devem abster-se do uso de força excessiva para responder aos protestos que se alastram pelo país, bem como garantir os direitos à manifestação pacífica e à liberdade de expressão".

Para Ponte e Sousa, o Governo de Castillo foi marcado por grande instabilidade ministerial e grande dificuldade na ação governativa no ano e meio de exercício de funções, num embate com o Congresso unicameral conservador.

"É preciso relembrar que Castillo venceu as eleições em 2021 por uma margem estreita, como candidato vindo de uma família pobre, de agricultores sem instrução, líder sindical, com grande oposição da direita, que apresentaram como candidata a filha de [ex-Presidente Alberto] Fujimori, Keiko Fujimori, mesmo sendo esta a favor dos crimes contra a humanidade perpetrados durante e por ordem do governo do pai", sublinhou o investigador.

O investigador do IPRI lembrou que a instabilidade política não é novidade no país, já que em seis anos houve seis Presidentes, depostos ou que renunciaram, mas sublinhou que no âmbito económico, o país tem apresentado uma certa estabilidade, fruto das políticas neoliberais de Fujimori (1990-2000).

Segundo Ponte e Sousa, só o tempo poderá fazer atenuar a crise, mas as raízes desta continuarão a existir, "nomeadamente com a existência de dois países muito distintos, o urbano de Lima, e o resto, mais próximo de Castillo".

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