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Manifestantes anunciam a retirada de edifícios públicos ocupados no Sri Lanka

Presidente do país ainda não renunciou apesar da promessa feita.

Eranga Jayawardena

Lusa

Os manifestantes que ocuparam nos últimos dias prédios públicos no Sri Lanka anunciaram esta quinta-feira a sua retirada, mas prometeram continuar a pressionar o Presidente cingalês, que não formalizou a sua renúncia, e o primeiro-ministro do país.

"Nós estamos a sair pacificamente do palácio presidencial, da secretaria presidencial e dos escritórios do primeiro-ministro com efeito imediato, mas continuaremos a nossa luta", disse uma porta-voz dos manifestantes.

Horas antes do anúncio da retirada, a polícia repeliu manifestantes que tentavam entrar no Parlamento do país. Os manifestantes invadiram o gabinete do primeiro-ministro cingalês, Ranil Wickremesinghe, na quarta-feira, depois de terem feito o mesmo no sábado com o palácio presidencial, o que levou o Presidente Gotabaya Rajapaksa a fugir para o estrangeiro.

Pelo menos 85 pessoas ficaram feridas nos confrontos e um homem morreu sufocado com o gás lacrimogéneo lançado pela polícia. Wickremesinghe, nomeado Presidente interino pelo chefe de Estado em fuga, pediu a retirada dos manifestantes de edifícios públicos e ordenou à polícia que fizesse "o necessário para restaurar a ordem". Um dignitário budista que apoia o movimento pediu na quinta-feira a devolução do palácio presidencial, um edifício com mais de 200 anos, a fim de preservar os valores nele contidos.

"Este edifício é um tesouro nacional e deve ser protegido", disse o monge Omalpe Sobitha aos jornalistas, defendendo que "deve haver auditoria adequada e a propriedade deve ser devolvida ao Estado". Centenas de milhares de pessoas visitaram o palácio desde que foi aberto ao público após a fuga de Rajapaksa. Num discurso transmitido pela televisão na quarta-feira, o primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe acusou os manifestantes que ocuparam o seu escritório de quererem impedi-lo de cumprir as suas "responsabilidades como Presidente interino".

Por outro lado, Gotabaya Rajapaksa prometeu renunciar na quarta-feira, mas nenhum anúncio foi feito. Após uma escala de um dia nas Maldivas, Rajapaksa partiu hoje para Singapura, com a sua mulher Ioma e dois guarda-costas, a bordo de um voo comercial da companhia aérea Saudia. Foram escoltados até ao avião alguns minutos antes da descolagem.

De acordo com fontes de segurança, a renúncia de Rajapaksa pode ser anunciada ainda hoje."A carta de demissão está preparada", disse a fonte à agência de notícias AFP, acrescentando que "ao sinal verde de Rajapaksa, o presidente do Parlamento a publicará". O chefe do Executivo impôs o estado de emergência reforçou os poderes dos militares e da polícia. Os manifestantes responsabilizam Rajapaksa e os familiares do Presidente de terem conduzido o país de forma dramática para o "abismo económico", mas também acusam o chefe do Executivo, Wickremesinghe, de ter protegido o chefe de Estado travando a demissão no passado mês de maio.

O impasse político ameaça ainda mais a situação económica e financeira do Sri Lanka sendo que a falta de alternativa governamental pode atrasar ainda mais a intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI). Entretanto, o país conta com a ajuda económica da Índia e da República Popular da China. A escassez de produtos de primeira necessidade agravou a situação da população do país com 22 milhões de habitantes.

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