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Suspensão da cooperação na área do clima pode ter “efeito catastrófico”, alerta representante da Rússia

Moscovo está “muito interessado” na discussão sobre “os problemas do oceano global” bem como os caminhos para “melhorar a qualidade de vida das comunidades costeiras”, garante Ruslan Edelgeriyev.

O líder da delegação russa na Conferência dos Oceanos em Lisboa alertou esta segunda-feira que a suspensão da cooperação na área do clima ou proteção ambiental pode ter um “efeito catastrófico” para o planeta e a sua recuperação “exigir décadas”.

“A suspensão da cooperação na área do clima ou da proteção ambiental não afetará nada além de impedir o progresso nessas áreas. Isso pode ter um efeito catastrófico para o nosso planeta, sendo que a recuperação poderá exigir décadas”, frisou à agência Lusa Ruslan Edelgeriyev, conselheiro do Presidente russo Vladimir Putin que vai encabeçar a delegação russa na conferência das Nações Unidas sobre os oceanos.

No contexto atual de invasão russa da Ucrânia, o diplomata de 46 anos, antigo primeiro-ministro da Chechénia, aludiu à Guerra Fria para reforçar que, mesmo nessa época, os dois blocos (do Leste e do Ocidente) “cooperavam no domínio da proteção ambiental”.

“Se não estamos unidos mesmo nas coisas tão óbvias, como a prevenção das alterações climáticas globais, então como podemos falar das coisas mais complexas?”, questionou Edelgeriyev.

O conselheiro do Kremlin (presidência russa) para os Assuntos Climáticos, que estará na capital portuguesa para a Conferência dos Oceanos, que se realiza entre esta segunda-feira e 1 de julho, defendeu ainda a “retirada da agenda ambiental e climática para lá da grande política”.

“Espero que os colegas dos outros países europeus estejam de acordo comigo e foquem a discussão sobre questões para as quais esta conferência foi convocada”, frisou Edelgeriyev, descartando também a necessidade de enviar “alguma mensagem especial” para os países a sul da Rússia.

“Em relação a estes países a nossa mensagem é sempre a mesma: estamos prontos para cooperar com todos que estiverem dispostos a cooperar connosco com base em respeito mútuo”, explicou, na resposta por escrito enviada à Lusa.

Já sobre os oceanos em particular, Ruslan Edelgeriyev salientou que enquanto decorre a luta contra as alterações climáticas não devem ser esquecidos outros problemas globais, como a poluição plástica dos oceanos, a acidificação ou a redução da biodiversidade destes.

“Por outro lado, não se deve esconder atrás da existência de outros problemas para adiar a luta contra as alterações climáticas. Do que precisamos é de um progresso equilibrado na solução de todos os problemas globais. Estamos prontos para contribuir para a implementação desta visão”, assegurou.

Ruslan Edelgeriyev frisou que a Rússia tem como objetivo a continuação da cooperação internacional em assuntos como as alterações climáticas e proteção ambiental.

Moscovo está também “muito interessado” na discussão sobre “os problemas do oceano global” bem como os caminhos para “melhorar a qualidade de vida das comunidades costeiras”, apontou.

“A interconexão entre a prosperidade económica, estado de ecossistemas marítimas e alterações climáticas merece uma atenção especial, já que a falta de ação nas próximas décadas pode provocar problemas graves no futuro”, alertou.

Segundo o enviado de Moscovo a Lisboa, na Rússia “discute-se muito ativamente a proibição de produtos plásticos descartáveis”, tema que foi abordado no âmbito do 25.º Fórum Económico Internacional de São Petersburgo, que decorreu entre 15 e 18 de junho.

Para a conferência na capital portuguesa, Ruslan Edelgeriyev pretende “conhecer as melhores práticas e daqui em diante combater este problema juntamente com os outros países”.

A Conferência das Nações Unidas sobre os oceanos vai realizar-se em Lisboa, com o apoio dos governos de Portugal e do Quénia, e contará com a presença de chefes de Estado e de governo de todos os continentes.

Em março, sete membros do Conselho do Ártico – um fórum de nações com controlo sobre águas e territórios na região – anunciaram que tinham cortado relações com a Rússia, que atualmente lidera este organismo, invocando a invasão russa da Ucrânia.

Ruslan Edelgeriyev apelou a estes países para que voltem “ao trabalho normal” do organismo, referindo que a posição atual é “contraproducente”.

“A discussão sobre os assuntos de cooperação no Ártico sem a Rússia é possível, mas a eficácia dessa cooperação seria artificialmente limitada. Eu sempre tenho manifestado contra a politização da cooperação climática e ambiental”, frisou.

Para além da Rússia, o Conselho Ártico inclui os Estados Unidos, Canadá, Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia.

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