O Papa apelou hoje aos militares de Myanmar que libertem os prisioneiros políticos e que seja retomado o caminho para a democracia "bruscamente interrompido" com o golpe militar de 1 de fevereiro.
"O golpe de Estado (...) levou à prisão de vários responsáveis políticos que eu espero que sejam rapidamente libertados como um sinal de um diálogo sincero para o bem do país", declarou o Papa.
Este domingo, durante a oração do Angelus, Francisco já tinha expressado a sua "viva preocupação" com o que está a acontecer na antiga Birmânia, um país que afirma carregar no coração desde a última visita apostólica, em 2017.
"Neste momento delicado quero manifestar a minha proximidade espiritual, a minha oração e solidariedade ao povo birmanês e espero que tenham responsabilidades e trabalhem com sincera disponibilidade ao serviço do bem comum, propondo justiça social e estabilidade para uma democracia harmoniosa de coexistência".
Francisco visitou Myanmar em novembro de 2017 e encontrou-se com Suu Kyi. Na sua viagem, que também incluiu o Bangladesh, o Papa expressou a sua proximidade com a minoria muçulmana rohingya.
Terceiro dia de manifestações em Rangum contra o golpe militar
Milhares de pessoas têm vindo a manifestar-se nestes últimos dias contra o golpe militar de 1 de fevereiro, contra a junta militar liderada pelo general Min Aung Hlaing, que depôs o Governo democrático de Aung San Suu Kyi, que está detida, bem como pela libertação de outros dirigentes.
Hoje, a polícia usou canhões de água contra os manifestantes na capital, Naypyidaw, enquanto dezenas de milhares de pessoas desceram às ruas em cidades como Rangum, antiga capital e a cidade mais povoada do país, e Mandalay.
Os militares puseram fim, a 1 de fevereiro, a uma frágil transição democrática, ao instaurarem o estado de emergência por um ano e detiveram Aung San Suu Kyi e outros dirigentes da Liga Nacional para a Democracia (LND, na sigla em inglês).
Mais de 150 pessoas, entre deputados, responsáveis locais e ativistas, foram interpelados e continuam detidos, indicou a agência AP.
As ligações à Internet foram parcialmente reestabelecidas no domingo, depois de uma perturbação no serviço de 24 horas, mas o acesso à rede social Facebook, principal ferramenta de comunicação para milhões de birmaneses, continua a ser restrito.
O país viveu sob um regime militar durante cerca de 50 anos, desde a independência em 1948.
Uma liberalização progressiva começou em 2010, e cinco anos depois, com a vitória da LND nas eleições, chegou ao poder um governo civil, dirigido de facto por Suu Kyi.
Muito criticada até há pouco pela comunidade internacional pela alegada passividade na crise dos muçulmanos rohingyas, Aung San Suu Kyi, que esteve submetida ao regime de prisão domiciliária durante 15 anos pela oposição à junta, continua a ser extremamente popular no país.
De acordo com fontes partidárias, a ex-dirigente estará de "boa saúde", confinada a uma residência em Naypyidaw, a capital construída pelos militares.
A LND venceu novamente as legislativas de novembro passado, num escrutínio cuja regularidade foi contestada pelos militares, apesar de observadores internacionais não terem constatado quaisquer problemas graves.
Os militares prometeram eleições livres depois do fim do estado de emergência.