O Presidente turco, o islamita conservador Recep Tayyip Erdogan, acusou esta terça-feira o seu homólogo francês, Emmanuel Macron, de usar a luta contra o extremismo para criar "cidadãos muçulmanos cobardes" que não protestem contra as injustiças.
"Aqueles que atacam a nossa religião, argumentando com crises que eles próprios causaram, estão incomodados com a ascensão do Islão", disse Erdogan numa mensagem vídeo enviada à Organização para a Cooperação Islâmica e divulgada no 'site' da Presidência.
"A retórica anti-islâmica é uma das ferramentas mais usadas por políticos ocidentais que querem encobrir a sua incompetência", adiantou na mensagem, alguns dias depois de um professor francês ter sido decapitado nos arredores de Paris por um alegado terrorista islâmico.
Erdogan fala em "tentativas lideradas por Macron de acertar contas com o Islão e os muçulmanos"
"Sob a capa da 'luta contra o extremismo', somada à luta antiterrorista, o que procuram é um perfil de cidadão muçulmano que não se queixa da opressão, não proteste contra a injustiça, passivo, cobarde, medroso, silencioso", insistiu.
Criticou as tentativas de relegar a religião à esfera privada, proibindo "princípios religiosos e símbolos na rua, no escritório, no mercado" e afirmou que um sistema em que o Estado controla a religião "não será uma democracia, mas um regime totalitário".
Professor decapitado em França
Erdogan não fez qualquer referência ao caso do professor francês Samuel Paty, assassinado na sexta-feira perto da escola onde no passado dia 6 deu uma aula sobre liberdade de expressão e mostrou caricaturas do profeta Maomé. Nenhum membro do governo turco se pronunciou sobre o assunto.
A pretensão de Macron, reafirmada após aquele crime, de exercer maior controlo sobre a ideologia islamita na França tem suscitado reações na Turquia, com a imprensa pró-governamental a acusar o presidente francês de procurar notoriedade política às custas do islão.
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