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Polícia francesa detém 15 pessoas na investigação à morte do professor decapitado

Alunos terão fornecido identidade do professor em troca de dinheiro.

Michel Euler

SIC Notícias

Lusa

Quinze pessoas, incluindo quatro estudantes, foram detidas desde sexta-feira passada no âmbito da investigação do assassínio do professor francês Samuel Paty, decapitado nos arredores de Paris, indicaram esta segunda-feira fontes da Procuradoria Nacional Antiterrorismo francesa.

A par dos quatro estudantes sob custódia policial, um quinto estudante foi identificado, mas foi, entretanto, libertado.

Professor terá exibido caricaturas do profeta Maomé numa aula

O ataque aconteceu na passada sexta-feira à tarde junto de um colégio nos subúrbios da capital francesa, onde Samuel Paty, de 47 anos, lecionava as disciplinas de História e de Geografia.

O alegado autor do ataque, identificado como Abdullah Anzorov, um jovem de 18 anos de origem chechena, nascido na Rússia (Moscovo), foi abatido pela polícia.

Fonte da polícia, citada pela agência de notícias France Presse (AFP), explicou que a vítima terá exibido caricaturas do profeta Maomé durante uma aula sobre liberdade de expressão.

Alunos terão fornecido identidade do professor em troca de dinheiro

Segundo fontes da investigação citadas esta segunda-feira pelo jornal francês Le Monde, um ou mais alunos terão fornecido a Abdullah Anzorov a identidade do professor em troca de algumas centenas de euros.

Os detidos

A par dos quatro estudantes detidos, outra pessoa, já referenciada por ligações a movimentos terroristas, apresentou-se voluntariamente às autoridades francesas por ter estado em contacto com o suspeito algum tempo antes do ataque.

Outras 10 pessoas permanecem sob custódia policial desde sexta-feira, principalmente familiares do alegado autor do ataque, nomeadamente os pais, o avô e um irmão mais novo, que foram detidos em Évreux, a cerca de 80 quilómetros do local onde aconteceu o ataque.

Também detidos estão um pai de uma aluna de Samuel Paty, que iniciou nas redes sociais uma campanha contra o professor e contra a decisão do docente de mostrar as caricaturas do profeta Maomé na sala de aula, e um pregador islâmico, identificado como Abdelhakim Sefraoui, que mantinha contacto com esse encarregado de educação.

França sai à rua em homenagem ao professor decapitado e em defesa da liberdade de expressão

O Presidente francês, Emmanuel Macron, encontrou-se esta segunda-feira com a família de Samuel Paty, que será lembrado na quarta-feira à tarde durante uma cerimónia de homenagem nacional.

O ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, anunciou que as operações policiais contra dezenas de indivíduos associados a movimentos islâmicos extremistas vão prosseguir nos próximos dias e que as associações com atividades suspeitas, qualificadas pelo Governo francês como "inimigas da República", serão dissolvidas.

O primeiro-ministro francês, Jean Castex, indicou, por sua vez, que existirão mais medidas para combater a propagação de mensagens de ódio na Internet, mas também para fortalecer a vigilância dos serviços de informações das redes sociais.

Jean Castex precisou ainda que a segurança dos funcionários e dos estabelecimentos escolares também será reforçada por novas medidas.

Ataque acontece três semanas após outro junto à antiga redação do Charlie Hebdo

Em pleno debate em França sobre o separatismo religioso, este assassínio aconteceu três semanas após um outro ataque durante o qual um paquistanês feriu duas pessoas que estavam em frente às antigas instalações do jornal satírico Charlie Hebdo, que em 2006 reproduziu cartoons sobre Maomé e que em 2015 foi duramente atingido pelo terrorismo islâmico.

Combate ao radicalismo

Recentemente, o Presidente Macron apresentou o seu plano de ação contra o "separatismo islâmico".

"Há nesse islamismo radical [...] uma vontade reivindicada de mostrar uma organização metódica para violar as leis da República e criar uma ordem paralela de outros valores, para desenvolver uma outra organização da sociedade", afirmou no início de outubro Macron, apontando então que o Islão é "uma religião que atravessa atualmente uma crise em todo o mundo".

Durante a intervenção, Macron anunciou várias medidas para combater o radicalismo, como a obrigação de qualquer associação que concorra a financiamento público de assinar uma declaração de laicidade, um enquadramento reforçado das escolas religiosas privadas e uma limitação do ensino em casa.

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