A deputada brasileira Joice Hasselmann afirmou que assessores ligados aos filhos do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, mantêm uma equipa de pessoas para divulgar notícias falsas.
A deputada da câmara baixa do parlamento afirmou na segunda-feira que identificou parte destes alegados perfis que disseminam notícias falsas e que já encontrou mais de 1.500 perfis na rede social Facebook e 20 no Instagram.
"Através dos ataques que foram feitos contra mim comecei a mapear. Tem alguns perfis que já estão identificados que já estiveram ou estão nas mãos de assessores dos meninos, Flávio [Bolsonaro], Eduardo (Bolsonaro] e do Carlos [Bolsonaro] ", disse Joice Hasselmann, numa entrevista ao programa Roda Viva.
"Quando você tem assessor de deputado, pago com dinheiro público, fazendo memes e ataques virulentos, sendo financiados com dinheiro público, não parece que isso passe perto da moralidade", acrescentou.
Joice Hasseman era uma das principais aliadas do Presidente brasileiro dentro do Partido Social Liberal (PSL), chegou a ser representante do Governo no Congresso, mas foi destituída deste posto por Bolsonaro quando uma crise dentro do partido do Presidente se tornou pública.
A deputada também declarou que a disseminação de notícias falsas foi uma arma de campanha nas últimas presidenciais brasileiras.
"A virulência [na campanha] todos nós sabíamos que havia. Eu não tinha informação concreta e real de que um grupo de pessoas faziam montagens, como sei hoje (...) A campanha foi muito dura de todos os lados. Eu não sabia e não fazia parte da equipa de 'fake news'".
Sobre a crise no PSL, partido do Presidente e dos seus filhos que também são parlamentares, a deputada comentou que os desgastes não começaram hoje e que a crise começou ainda na época da transição.
O PSL era uma formação de baixa representatividade no parlamento do país, com apenas um deputado, até às anteriores eleições, quando se tornou o segundo maior partido dentro da câmara baixa, elegendo 53 dos 513 deputados desta casa parlamentar.
Desde o início do ano, porém, o PSL vive momentos conturbados porque é alvo de investigações sobre candidaturas fantasma.
As lideranças do partido são acusadas de promover candidaturas fantasma de mulheres e desviar o dinheiro das campanhas femininas para outras finalidades.
No Brasil, o financiamento eleitoral é suportado maioritariamente com dinheiro público e a lei estabelece que todos os partidos devem usar 30% das verbas para a promoção de candidaturas de mulheres.
No entanto, o jornal Folha de S.Paulo revelou denúncias que estão a ser investigadas pelas autoridades das polícias sobre mulheres que teriam recebido grandes somas de dinheiro para lançar candidatura pelo PSL, mas que tiveram uma baixa votação porque, de facto, não fizeram campanha.
O partido de Jair Bolsonaro também está envolvido num outro caso muito semelhante que levou a Promotoria (equivalente ao Ministério Público português) a denunciar formalmente o atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro António.
Marcelo Álvaro António, único representante do PSL no gabinete de Bolsonaro, foi acusado de promover "candidatas fantasma" para aumentar os recursos do fundo partidário.
Apesar de já ter sido denunciado, Jair Bolsonaro manteve o ministro do Turismo no cargo e disse que poderá demiti-lo se a Justiça brasileira aceitar a denúncia do Ministério Público.
Enquanto estas investigações prosseguem, o chefe de Estado brasileiro chegou a propor uma auditoria às contas do PSL para verificar se o partido cometeu atos irregulares e também ameaçou deixar o partido, duas situações que ainda não se concretizaram.
Lusa