O principal suspeito de piratear telemóveis de autoridades do Brasil disse que Manuela D' Ávila, candidata ao cargo de vice-presidente nas últimas eleições, o colocou em contacto com o jornalista Glenn Greenwald, fundador do The Intercept Brasil.
A informação foi divulgada na sexta-feira pela Rede Globo, que obteve a transcrição do depoimento de Walter Delgatti Neto, preso na terça-feira, numa investigação sobre atos de pirataria cibernética cometidos contra autoridades.
Manuela D"Avila é filiada ao Partido Socialismo e Liberdade (Psol) e foi candidata a vice-presidência na coligação liderada por Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), que acabou derrotada na segunda volta das presidenciais brasileiras.
A resposta de Manuela D' Ávila
Após a divulgação do depoimento de Walter Delgatti Neto, Manuela D'Avila publicou uma nota na rede social Facebook dizendo que o seu telemóvel foi pirateado, confirmou ter sido procurada por uma pessoa não identificada a qual ela colocou em contacto com Greenwald.
"No dia 12 de maio, fui contactada pela aplicação Telegram de que, naquele mesmo dia, o meu dispositivo tinha sido invadido no Estado da Virginia, Estados Unidos. Minutos depois, pelo mesmo aplicativo, recebi mensagem de pessoa que, inicialmente, se identificou como alguém inserido na minha lista de contatos para, a seguir, afirmar que não era quem eu supunha que fosse, mas que era alguém que tinha obtido provas de graves atos ilícitos" relatou.
"Sem se identificar, mas dizendo morar no exterior, [a mesma pessoa] afirmou que queria divulgar o material por ele recolhido para o bem do país, sem falar ou insinuar que pretendia receber pagamento ou vantagem de qualquer natureza" acrescentou Manuela D"Avila.
A ex-candidata disse que chegou a suspeitar que as mensagens fossem uma armadilha de seus adversários políticos e limitou-se a repassar o contacto do invasor para Glennwald.
"Desconheço, portanto, a identidade de quem invadiu meu celular [telemóvel] , e desde já, me coloco à inteira disposição para auxiliar no esclarecimento dos factos em investigação. Estou, por isso, orientando os meus advogados a procederem à imediata entrega das cópias das mensagens que recebi pela aplicação Telegram à Polícia Federal", concluiu.
O suspeito de pirataria cibernética afirmou, no mesmo depoimento, não ter editado o material subtraído dos telemóveis usados pelos procuradores da Lava Jato afirmando também que não pediu dinheiro em troca das informações entregues a Greenwald e ao The Intercept Brasil.
O escândalo "Vaza Jato"
O ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, e membros do grupo de trabalho da Lava Jato estão envolvidos num escândalo, conhecido como "Vaza Jato", que começou em 9 de junho, quando o The Intercept Brasil e outros 'media' parceiros começaram a divulgar reportagens que colocam em causa a imparcialidade da maior Operação contra a corrupção no país.
Baseadas em informações obtidas de uma fonte não identificada, estas reportagens apontam que Moro terá orientado os procuradores da Lava Jato, indicado linhas de investigação e adiantado decisões enquanto era juiz responsável por analisar os processos do caso em primeira instância.
Se confirmadas, as denúncias indicam uma atuação ilegal do antigo magistrado e dos procuradores brasileiros porque, segundo a legislação do país, os juízes devem manter a isenção e, portanto, estão proibidos de auxiliar as partes envolvidas nos processos.
Moro e os procuradores da Lava Jato, por seu turno, negam terem cometido irregularidades e fazem críticas às reportagens do The Intercept e seus parceiros (Folha de S. Paulo, revista Veja, El País e o jornalista Reinaldo Azevedo), afirmando que são sensacionalistas e usam conversas que podem ter sido adulteradas e foram obtidas através de crime cibernético.
Na terça-feira, a polícia brasileira realizou a Operação Spoofing e prendeu Walter Delgatti Neto, Gustavo Henrique Elias Santos, Suelen Priscilla de Oliveira e Danilo Cristiano Marques, após encontrar indícios de que teriam praticado pirataria cibernética contra autoridades do país.
Segundo os investigadores, além de Moro e dos procuradores da Lava Jato, o grupo pirateou telemóveis do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e do ministro da Economia, Paulo Guedes, numa ação que terá intercetado comunicações de mais de mil pessoas.
Lusa