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China confirma que dois canadianos detidos são suspeitos de "ameaçar a segurança nacional"

Aparente retaliação pela detenção da diretora financeira da Huawei no Canadá a pedido dos Estados Unidos.

Embaixada do Canadá em Pequim
Thomas Peter / Reuters

A China confirmou hoje que suspeita que dois canadianos exercem "atividades que ameaçam a segurança nacional" pelo que tomou "medidas coercivas", declarou hoje um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lu Kang, citado pela AFP.

Michael Kovrig, um ex-diplomata canadiano de passagem por Pequim, e Michael Spavor, empresário e consultor a viver em Liaoning, província do nordeste da China, "levaram a cabo atividades que ameaçam a segurança nacional da China. Estes casos estão a ser objeto de investigação".

Segundo o porta-voz, Kovrig foi detido na segunda-feira, pelo Gabinete de Segurança Nacional de Pequim, enquanto Spavor está sob custódia do Gabinete de Segurança Nacional da cidade de Dandong, na província de Liaoning, noroeste do país.

Estas detenções ocorrem numa altura de crescente tensão entre Pequim e Otava, face à detenção da diretora financeira da empresa chinesa de telecomunicações Huawei, Meng Wanzhou, no Canadá, a pedido dos Estados Unidos.

Ex-diplomata e empresário com ligações à Coreia do Norte estão detidos

Michael Spavor é o diretor do Paektu Cultural Exchange e um dos poucos ocidentais que já se encontrou com o líder norte-coreano Kim Jong-un. O empresário organiza viagens turísticas e eventos desportivos na Coreia do Norte e ajudou Pyongyang a organizar a visita ao país do antigo jogador norte-americano de basquetebol Dennis Rodman

Michael Kovrig é um ex-diplomata canadiano que atualmente trabalha para um grupo de reflexão, o International Crisis Group (ICG).

O Governo chinês justificou a detenção de Kovrig afirmando que a organização para a qual trabalha "não está registada na China".

As detenções ocorrem depois de as autoridades chinesas terem ameaçado Otava com "graves consequências" caso a diretora executiva da Huawei, Meng Wanzhou, não fosse libertada imediatamente.

Retaliação pela detenção da diretora da Huawei no Canadá

Meng Wanzhou foi detida por suspeita de ter mentido sobre uma filial da empresa, para poder aceder ao mercado iraniano, violando sanções norte-americanas.

O tribunal de Vancouver decretou a liberdade condicional de Meng Wanzhou, apesar de o advogado representante do Governo canadiano se ter oposto.

As autoridades dos EUA suspeitam que o grupo chinês exportou produtos de origem norte-americana para o Irão e outros países visados pelas sanções de Washington, violando as suas leis.

Uma lei federal proíbe responsáveis governamentais e militares de utilizarem aparelhos fabricados pela Huawei e as suas alegadas ligações ao Partido Comunista chinês são frequentemente salientadas.

Meng é filha do fundador da Huawei, Ren Zhengfei.

As autoridades norte-americanas têm 60 dias após a detenção para apresentar ao Canadá um pedido formal de extradição. Caso não o façam Meng será colocada em liberdade.

Imprensa oficial chinesa apela ao Canadá que rejeite "hegemonia" dos EUA

A imprensa oficial chinesa pediu hoje a Otava que rejeite a "hegemonia" de Washington e tome "decisões independentes", apelando à libertação da diretora financeira da Huawei.

"O Canadá concedeu liberdade condicional a Meng, o que é positivo, mas ela merece total liberdade. Otava pode acabar agora mesmo com esta crise", apontou o Global Times, jornal de língua inglesa do grupo do Diário do Povo, o órgão central do Partido Comunista Chinês.

Em editorial, o jornal lembra que as "obrigações" do Canadá para com a China "devem prevalecer", face aos compromissos para com um terceiro país.

O Global Times considera que os EUA violaram o espírito do direito internacional, ao usar leis nacionais para estender a sua jurisdição, e apelou ao Canadá que atue como um "país independente e soberano, e não um Estado vassalo".

O jornal evita ainda vincular a recente detenção do antigo diplomata canadiano Michael Kovrig, uma aparente retaliação pelo caso de Meng.

"Não há nada que evidencie uma ligação entre a detenção de Meng e a de Kovrig", afirma o Global Times, lembrando que os dois casos são "muito diferentes", já que Meng foi detida sem ter violado nenhuma lei do Canadá, e Kovrig foi detido pelas suas "atividades" na China.

Washington tem um plano "bem preparado" para expulsar tecnológicas chinesas, acusa a China

Um outro jornal oficial chinês acusou Washington de ter um plano "bem preparado" contra a Huawei e outras tecnológicas chinesas, visando expulsá-las do mercado norte-americano.

"A China está a conter-se no caso de Meng, para que não afete as fricções comerciais com os Estados Unidos, e está a fazer todos os esforços para aliviar as tensões", afirmou o China Daily, lembrando que é "altura de a China se preparar para o próximo golpe dos Estados Unidos".

Guerra comercial EUA-China

A ascensão ao poder de Donald Trump nos EUA desencadeou disputas comerciais, com os dois países a aumentarem as taxas alfandegárias sobre centenas de milhões de dólares de produtos de cada um.

A liderança norte-americana teme perder o domínio industrial global, à medida que Pequim tenta transformar as firmas estatais do país em importantes atores em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros elétricos.

Pequim e Washington anunciaram, no mês passado, uma trégua de 90 dias, para negociar um acordo que ponha o fim à guerra comercial.

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