"As redes sociais está a mudar completamente a paisagem política", proclamou o antigo primeiro-ministro português, dando como exemplo as eleições presidenciais no Brasil, no domingo, onde Bolsonaro venceu 55,1% dos votos, derrotando Fernando Haddad, candidato do Partido dos Trabalhadores.
"Bolsonaro ganhou quase sem campanha na televisão, é ainda mais surpreendente do que [a vitória de] Trump", lembrando que o tempo de antena é atribuído no Brasil de acordo com a dimensão do partido e o Partido Social Liberal "era quase irrelevante".
Orador hoje numa palestra intitulada "A União Europeia e o Panorama Internacional em Mudança" na Faculdade de Economia da Universidade City, em Londres, Barroso admitiu que o resultado no Brasil reflete uma "reação [dos eleitores] à corrupção sistémica e sem precedentes".
Porém, o facto de Bolsonaro ter sido eleito para Presidente da República "de uma das maiores democracias do mundo mostra como as coisas estão mudar globalmente", acrescentou.
Mesmo assim, mostrou-se confiante de que "no final, a democracia vai ganhar".
Na sua palestra, Barroso observou como as "mudanças na estrutura de poder" também estão a afetar o mundo empresarial e que "a revolta não é apenas contra políticos, é contra as elites".
Na origem do crescente populismo e nacionalismo internacionais, acredita, está a uma reação às mudanças culturais que resultaram da globalização e evolução tecnológica.
"Quando as pessoas são expostas a coisas novas tendem a fechar-se e agora estamos nesse processo", admitiu.
Mas o ex-presidente da Comissão Europeia acredita que as ditaduras são mais vulneráveis ao multiculturalismo e globalização, dando os exemplos da União Soviética, transformada pela 'perestroika' nos anos 1980 e 1990, e dos regimes do norte de África, derrubados pela "primavera árabe" no início desta década.
"As democracias são mais resistentes do que as ditaduras, adaptam-se melhor a ambientes em mudança", garantiu Barroso, atualmente consultor do banco norte-americano Goldman Sachs.
Lusa