Os socialistas espanhóis são a principal força política da oposição e propõem que o seu líder, Pedro Sánchez, substitua Rajoy na chefia do executivo, mas apenas têm 84 deputados, muito longe dos 176 (metade da assembleia de 350 mais um) necessários.
Sánchez insiste que, depois de ter sido conhecida a sentença do "caso Gurtel", há uma semana, com vários antigos membros do PP (Partido Popular, direita) condenados, o atual executivo minoritário perdeu a confiança dos cidadãos e a credibilidade internacional necessária para continuar em funções.
Dois dias antes da votação, o líder socialista está a realizar uma série de contactos "de cortesia" com os restantes partidos com assento parlamentar para lhes pedir o apoio, embora afirme que "não irá negociar" com nenhum deles.
Mariano Rajoy conseguiu que a moção de censura fosse votada apenas uma semana depois da sua apresentação, para assim dificultar o trabalho de Pedro Sánchez de encontrar aliados.
Quando o Unidos Podemos (coligação de extrema-esquerda) apresentou em 2017 a última moção de censura a Rajoy o intervalo até à votação foi de 25 dias.
Os "barões" e líderes regionais do PSOE exigiram a Sánchez que não faça qualquer tipo de acordos com partidos separatistas, como a Esquerda Republicana Catalã (9 deputados) ou o Partido Democrático e Europeu da Catalunha (8 deputados) do ex-presidente daquela região espanhola.
O Unidos Podemos (67) é terceira maior força no parlamento e até agora o único partido que assegurou o apoio à moção socialista, ao qual se juntaram o Compromís (4, nacionalistas valencianos) e a Nueva Canarias (1, nacionalista das Canárias), o que totaliza 156 votos a favor da moção.
O campo contra a moção conta com 167 votos divididos pelos deputados do PP (134), do Cidadãos (32, direita liberal) e da Coligação Canária (1, nacionalista das Canárias).
O Cidadãos defende eleições "imediatas", porque as sondagens apontam uma subida para o partido nas intenções de voto dos espanhóis, e não tem qualquer intenção, bem pelo contrário, de facilitar a chegada ao poder dos socialistas.Pedro Sánchez terá, assim, de obter o apoio de pequenos partidos regionais, nacionalistas e separatistas.
Entre eles estão os separatistas catalães contra os quais o PSOE se opôs determinantemente ao lado do PP e dos Cidadãos e que poderão ter uma lógica de desestabilizar a situação do Estado central e não de criar uma verdadeira alternativa.
Uma derrota da moção de censura permitirá a Mariano Rajoy continuar a governar em minoria, mas todos os observadores sublinham que, se isso acontecer, iria sair enfraquecido e com menos margem de manobra para aprovar medidas legislativas.
O chefe do executivo espanhol assegurou hoje em Madrid que não tem qualquer intenção de se demitir e que pretende "completar o mandato conferido pelos espanhóis", até ao final da legislatura, em 2020.
"Tenho um mandato dos cidadãos, que deram ao meu partido 50 lugares mais do que deram ao segundo partido", o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), acrescentou Rajoy.
O PSOE teria muita dificuldade em governar, se conseguisse reunir o que em Espanha se chama "maioria Frankestein" (uma alusão à "manta de retalhos" de que é feito aquele personagem de ficção).
PP e PSOE tinham até há poucos anos uma soma de cerca de 80 % do voto dos espanhóis e iam-se alternando na direção do Governo, mas desde o aparecimento do Unidos Podemos e do Cidadãos que, para formar um executivo maioritário, os resultados eleitorais têm ditado que são necessários pelo menos três partidos políticos.
Esta situação dificulta a formação de governos estáveis e obriga a negociações difíceis que são complicadas com as reivindicações feitas por uma série de pequenos partidos regionais.
Lusa