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Detidas 91 pessoas na Turquia por "propaganda terrorista" contra a ofensiva militar na Síria

As autoridades turcas detiveram desde segunda-feira 91 pessoas suspeitas de promoverem "propaganda terrorista" nas redes sociais por criticarem a ofensiva militar de Ancara contra uma milícia curda da Síria, referiu a agência noticiosa estatal Anadolu.

Polícia impede entrada no edifício do Partido Democrático dos Povos (HDP, esquerda e pró-curdo)
Sertac Kayar / Reuters

Estas detenções ocorreram na sequência de uma operação policial a nível nacional contra 'internautas' suspeitos de partilharem conteúdos favoráveis aos combatentes curdos.

Hoje foram detidas 23 pessoas em Izmir (oeste), incluindo Cerkez Aydemir, responsável local do Partido Democrático dos Povos (HDP, esquerda e pró-curdo), indicou a Anadolu.

Por sua vez, 17 pessoas foram detidas em Diyarbakir, a principal cidade do sudeste do país e de maioria curda, nove em Ancara e dezenas de outros "suspeitos" por todo o país desde segunda-feira, adiantou a mesma fonte.

A Turquia desencadeou no sábado, no norte da Síria, uma ofensiva militar contra as Unidades de Proteção do Povo (YPG), uma milícia curda síria considerada "terrorista" por Ancara.

As YPG têm sido apoiadas pelos Estados Unidos, que consideram esta milícia uma força eficaz para combater o grupo extremista Estado Islâmico (EI).

Em 2017, esta milícia curda desempenhou uma função decisiva no assalto a Raqa, o antigo bastião dos 'jihadistas' na Síria.

Hoje, no quatro dia da ofensiva militar turca, as autoridades locais curdas decretaram a "mobilização geral" para defender o enclave de Afrine, alvo da ofensiva turca, e apelaram aos civis para "pegarem em armas".

Para além das detenções em diversas regiões da Turquia, na segunda-feira foi iniciado um inquérito contra quatro deputados do HDP que apelaram a manifestações contra a ofensiva na Síria.

No domingo, a polícia impediu dois protestos contra a operação militar, em Istambul onde foram detidas sete pessoas, e em Diyarbakir.

As redes sociais são particularmente vigiadas na Turquia, um dos países que mais frequentemente pede a retirada de conteúdos do Twitter.

A agência Anadolu publicou um artigo relacionado com imagens partilhadas nas redes sociais para demonstrar que eram falsas diversas informações publicadas na Internet e relacionadas com a ofensiva militar.

"Apelamos sobretudo aos media, mas também ao conjunto da população, a estarem vigilantes face às informações e imagens mentirosas, deformadas ou provocadoras, e aos rumores", declarou hoje em comunicado o porta-voz da presidência, Ibrahim Kalin, assegurando que estes casos estavam a ser acompanhados e que as autoridades vão intervir "com prontidão e determinação, no quadro da lei".

Os Repórteres Sem Fronteiras (RSF) manifestaram preocupação pela detenção de pelo menos cinco jornalistas entre as pessoas presas desde segunda-feira.

"Esta nova vaga de propaganda, a intensificação da caça às vozes críticas e a quase ausência de debate sobre a operação militar ilustram o grau de degradação atingido pelo pluralismo na Turquia", segundo Johann Bihr, responsável pelo gabinete Europa de leste e Ásia central dos RSF, citada pelo comunicado.

A Turquia ocupa o 155º lugar em 180 na classificação estabelecida pelos RSF sobre liberdade de imprensa.

Lusa

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