Merkel falava ao chegar à cimeira de líderes da UE em Bruxelas, que decorre hoje e sexta-feira na capital belga.
O tema da Catalunha ficou de fora da agenda oficial do encontro, mas o conflito institucional e político naquela região espanhola foi abordado pelos chefes de Estado e de Governo dos vários Estados-membros.
Também à chegada à cimeira, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou esta quinta-feira que este encontro fica marcado por "uma mensagem de unidade" dos vários países da UE para com Espanha.
"Este Conselho fica marcado por uma mensagem de unidade, de unidade em torno dos Estados-membros frente às crises que possam enfrentar. Unidade em torno de Espanha", disse Macron.
O Governo espanhol vai reunir-se extraordinariamente no sábado para avançar com as medidas para assumir o controlo da Catalunha, depois de ter rejeitado esta manhã uma nova ameaça do executivo regional de formalizar a declaração de independência.
Madrid convocou este Conselho de Ministros para "continuar os trâmites previstos no artigo 155.º da Constituição para restaurar a legalidade no autogoverno da Catalunha".
O Governo espanhol explicou em comunicado que, na reunião de sábado, irá tomar "as medidas que serão levadas ao senado [câmara alta] a fim de proteger os interesses gerais dos espanhóis, entre eles os dos cidadãos da Catalunha, e restaurar a ordem constitucional na Comunidade Autónoma".
Esta foi a resposta a uma carta, recebida ao início da manhã, do presidente do Governo catalão, Carles Puigdemont, na qual este ameaçava votar formalmente essa independência no parlamento regional, no caso de Madrid avançar com a suspensão da autonomia regional.
Puigdemont também reiterou que lamenta "a falta de diálogo" de Madrid e afirma que o Governo de Rajoy insiste "na repressão".
O extremar de posições do governo regional catalão surge na sequência de um referendo pela independência realizado a 1 de outubro, considerado inconstitucional pela justiça espanhola e marcado por cargas policiais da Guardia Civil e da Polícia Nacional quando tentavam, sem êxito, impedir a consulta.
Segundo a Generalitat, nessa consulta popular - sem escrutínio independente - o "sim" à independência teve 90% dos votos dos 43% dos eleitores que foram votar, tendo aqueles que não concordam com a independência da região boicotado a ida às urnas.
Também à chegada à cimeira, o primeiro-ministro do Luxemburgo, Xabier Bettel, advogou que se "encontre uma solução política, diplomática", em que "toda a gente possa falar", mas respeitando a Constituição espanhola.
"Há uma lei e uma Constituição que devem ser respeitadas", disse o primeiro-ministro luxemburguês, salientando que "este é um assunto espanhol que deve ser gerido por Espanha".
Questionado sobre as críticas do primeiro-ministro belga, Charles Michel, à atuação policial no dia do referendo, Bettel disse que "não é ninguém para dizer a [Mariano] Rajoy o que tem de fazer".`
Ao chegar ao encontro de líderes, Charles Michel voltou a salientar a posição do seu governo sobre o tema: condena a violência da polícia espanhola no dia do referendo, mas apela ao diálogo entre as partes e ao respeito pela ordem jurídica nacional e internacional.
Michel rejeitou que exista uma crise diplomática entre a Bélgica e a Espanha - algo que foi noticiado pela imprensa em Madrid - alegando que "houve uma dramatização mediática", "interpretações e instrumentalizações" das suas declarações, no passado fim-de-semana ao diário belga "Le Soir".
Ao jornal, Michel disse que se o diálogo falhasse em Espanha, teria de se equacionar uma mediação internacional, algo que pedido pelos independentistas catalães e que a UE tem vindo a rejeitar em bloco.
"Espanha é um país amigo. Sempre pedimos diálogo, o respeito pela ordem nacional e internacional, pelo Estado de Direito. Somos consequentes, constantes", disse Charles Michel, optando hoje por não fazer qualquer referência à "mediação internacional".
O primeiro-ministro luxemburguês disse que concorda com a ideia de fundo das palavras de Charles Michel, mas acredita que também este está do lado de Mariano Rajoy.
"Tanto Rajoy como Michel estão pelo respeito pela lei e pela Constituição. Agora, se me pergunta o que penso eu das palavras de Michel sobre evitar o uso da violência, digo-lhe que ele tem razão", concluiu.
Lusa