"Lamentamos a perda de um interlocutor muito profissional e muito conhecedor, embora nem sempre fácil", declarou a porta-voz Natasha Beratud, quando questionada sobre a demissão de Ivan Rogers, durante a conferência de imprensa diária da Comissão, em Bruxelas.
Acrescentando que o embaixador foi "um diplomata que sempre defendeu de forma leal o seu país", a porta-voz escusou-se a comentar se a sua saída poderá dificultar as negociações entre Londres e Bruxelas sobre o processo de saída do Reino Unido da UE ('Brexit'), argumentando que a Comissão só fará comentários sobre as negociações quando estas arrancarem, algo que só acontecerá quando o governo britânico acionar o artigo 50 do Tratado de Lisboa.
A inesperada demissão do até agora embaixador britânico junto da UE, conhecida na terça-feira, ocorre a somente cerca de três meses para a data anunciada pelo Reino Unido para a ativação do artigo 50 e consequente início das negociações.
Na sua carta de demissão enviada aos colegas em Bruxelas, e publicada hoje na imprensa britânica, Ivan Rogers pede a estes que desafiem o "pensamento confuso" e que digam a verdade ao "poder" sobre as negociações do "Brexit".
A demissão de Rogers é vista hoje pela imprensa como um claro descontentamento com a gestão do Governo da conservadora Theresa May antes do início das conversações com Bruxelas.
O diplomata teceu duras críticas contra o Governo, ao afirmar que os ministros precisam de ouvir pontos de vista "incómodos" da Europa, e lamenta que os funcionários ainda não saibam quais são as prioridades de negociação do governo de Londres.
Rogers, considerado um diplomata experiente nas negociações com a UE, renunciou ao cargo pouco antes de o Reino Unido ativar, em finais de março, o processo de negociações sobre o 'Brexit', a saída do país do bloco europeu.
Designado em finais de 2013, o diplomata foi um dos principais assessores do ex-primeiro-ministro conservador David Cameron nas negociações prévias ao referendo europeu para tentar garantir alterações às cláusulas da participação britânica na UE.
Na sequência dessas conservações, onde foram acordadas mudanças no acesso dos cidadãos comunitários às ajudas sociais britânicas, Cameron decidiu convocar um referendo sobre a permanência ou saída do Reino Unido da UE, que decorreu em 23 de junho.
O Reino Unido deverá abandonar a União Europeia na primavera de 2019.
Lusa