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Presidente sírio adverte que guerra contra rebeldes "ainda vai ser longa"

O Presidente sírio, Bashar al-Assad, advertiu  que a guerra contra os rebeldes na Síria ainda vai ser longa, apesar dos  progressos conseguidos "na luta" contra a rebelião.  

Assad em entrevista exclusiva à agência noticiosa francesa AFP, realizada a 19 de Janeiro de 2014, no palácio do Povo em Damasco / Reuters
© Sana Sana / Reuters

Numa entrevista exclusiva à agência noticiosa francesa AFP, realizada  no domingo, no palácio do Povo em Damasco, Al-Assad declarou que "é possível  dizer que o regime está a conseguir progressos na luta antiterrorista, o  que não significa que a vitória seja iminente".   

"Este género de batalha é complicado, não é fácil e exige muito tempo",  afirmou, rejeitando qualquer distinção entre rebeldes e combatentes islamitas  que, desde 2011, lutam contra o regime no poder na Síria.  

"Se a Síria perder esta batalha, isso significa que o caos se vai estender  a toda a região do Médio Oriente", avisou o Presidente sírio.  

Por isso, definiu como prioridade da conferência de paz Genebra 2, que  deverá realizar-se na quarta-feira, a luta contra o terrorismo na Síria,  numa referência à rebelião armada.  

"A conferência de Genebra deve levar a resultados claros em relação  à luta contra o terrorismo (...) qualquer resultado político que não inclua  a luta contra o terrorismo não tem qualquer valor", sublinhou.  

Bashar al-Assad defendeu que as forças do regime não tinham cometido  "qualquer massacre" desde o início da guerra, acusando os rebeldes de assassinar  civis "por todo o país".   

"O Estado sírio continua a defender os civis. As sequências de vídeo  e fotografias confirmam que são os terroristas que cometem massacres. Não  há nenhum documento que prove que o governo sírio cometeu qualquer massacre  desde o início da guerra até ao momento", garantiu.  

"Considero que nada me impede de me apresentar como candidato", a um  novo mandato em junho, excluindo confiar a chefia de um futuro gGoverno  a um opositor.  

"Se a opinião [pública] o desejar não hesitarei um segundo em apresentar  a minha candidatura. Resumindo, podemos dizer que há fortes hipóteses de  me candidatar", declarou Al-Assad, sorridente e aparentemente descontraído.

De 48 anos, Bashar al-Assad está no poder desde julho de 2000, sucedendo  ao pai Hafez al-Assad, morto em junho de 2000 depois de ter dirigido o país  durante 30 anos.  

O Presidente sírio negou qualquer representatividade da oposição e afirmou  que esta era "fabricada" por serviços secretos estrangeiros.  

"Eles entram nas fronteiras [sírias] por meia hora antes de fugirem,  como podem ser membros de um Governo? Será que um ministro pode exercer  as suas funções a partir do exterior? Tais ideias são totalmente irrealistas,  podemos considerá-las uma piada", disse Al-Assad, que enviou uma delegação  à conferência de Genebra.  

Rejeitou também qualquer diferença entre rebeldes e combatentes islâmicos.

"Estamos perante uma única parte, a saber organizações terroristas extremistas  independentemente do modo como são identificados nos 'media' ocidentais",  afirmou.  

Al-Assad, que vive em Damasco com a mulher e os três filhos, esclareceu  que nunca pensou em fugir do país, desde o início do conflito.  

"Fugir não é uma opção neste caso. Devo estar na primeira fila dos defensores  da pátria. Este é o único cenário desde o primeiro dia da crise", frisou.

O Presidente sírio acusou ainda a França, que apoia a rebelião na Síria,  de se ter transformado "num vassalo" do Qatar e da Arábia Saudita, em troca  de "petrodólares".  

"A França tornou-se num país vassalo, que executa a política do Qatar  e da Arábia Saudita. Como podem os petrodólares levar alguns responsáveis  ocidentais, nomeadamente em França, a trocar os princípios da Revolução  Francesa por alguns milhões de dólares", perguntou Al-Assad.  

Por outro lado, o Presidente sírio acusou o tribunal internacional,  que está a julgar quatro membros do Hezbollah (movimento de resistência  xiita) no caso do homicídio do ex-dirigente libanês Rafic Hariri, de "estar  politizado" e de "querer pressionar" o partido, que luta ao lado do regime  sírio.  

"Não vimos qualquer prova tangível contra as partes implicadas no caso  (...) tudo o que se passa está politizado e visa pressionar o Hezbollah  no Líbano, como na Síria, no passado, imediatamente após o assassínio de  Hariri", disse.  

Al-Assad referia-se a um relatório preliminar do inquérito internacional  que tinha, inicialmente, implicado a Síria no homicídio de Hariri, a 14  de fevereiro de 2005, em Beirute.  

Dois meses após o homicídio de Rafic Hariri, que era primeiro-ministro  antes de se tornar um opositor à hegemonia de Damasco, as tropas sírias  retiraram do Líbano, após 30 anos de presença, sob pressão popular e da  oposição no Líbano e da comunidade internacional.  

Em meados do ano passado, o Hezbollah, aliado próximo do poder na Síria,  anunciou ter enviado homens para combater os rebeldes, ao lado das forças  do regime sírio.  

 

Lusa

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