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Papa diz que a globalização leva à indiferença

O Papa lançou hoje na ilha italiana  de Lampedusa uma coroa de flores ao mar, em memória dos imigrantes ilegais  que morreram na travessia do Mediterrâneo, e lançou duras críticas à globalização  que "leva à indiferença".  

ANDREAS SOLARO / POOL

Depois de rezar uns minutos, Francisco lançou uma coroa com flores brancas  e amarelas, cores do Vaticano, num barco da Guarda Costeira italiana, pouco  antes de atracar no porto de Lampedusa, a 113 quilómetros da costa do norte  de África. 

"Rezo por vocês e também pelos que não estão", disse o Papa a várias  dezenas de imigrantes no porto de Lampedusa, auxiliado por um tradutor.

"Em vez de ser uma avenida de esperança tornou-se num caminho de morte,  para os imigrantes", sublinhou mais tarde o Papa na sua homilia, durante  a missa celebrada na ilha de Lampedusa, referindo também que "uma espinha  ficou cravada no coração" quando teve conhecimento da morte de sete africanos  ao tentar alcançar o território italiano. 

O Papa afirmou que o homem moderno é "confuso, não está atento ao mundo  em que vive, não cuida e não guarda o que Deus criou para nós, nem mesmo  para cuidarmos uns dos outros".  

"E quando a desorientação assume as dimensões do mundo ocorrem tragédias  como estas", acrescentou. 

"Hoje ninguém é responsável por isto, perdemos o sentido de responsabilidade  fraterna e caímos na hipocrisia, afirmou Francisco.   

O bispo de Roma disse que "a cultura de bem-estar leva-nos a acreditar  em nós mesmos, torna-nos mais insensíveis ao clamor dos outros, vivemos  em bolhas de sabão que são bonitas, mas nada mais, são a ilusão do fútil,  do provisório, que leva à indiferença para com os outros, a globalização  leva à indiferença". 

"Estamos acostumados com o sofrimento dos outros, não nos afeta, não  nos importamos, não cabe a nós", disso o Papa, acrescentado que a globalização  da indiferença torna-nos todos inarráveis, responsáveis sem nome e sem rosto".

Francisco apertou as mãos de imigrantes ilegais, muçulmanos e cristãos,  que chegaram nos últimos dias em barcos velhos à ilha de Lampedusa, que  é também conhecida como "Porta da Europa". 

O Papa referiu que estava ali para recordar os mortos, para rezar por  eles e para mostrar a sua proximidade e que a sociedade de hoje esqueceu-se  de chorar e de lamentar pelas pessoas que morreram no Mediterrâneo. 

Havia muitas mulheres e crianças entre os imigrantes, que aproveitaram  o momento para pedir ajuda à Europa. 

"Peçamos ao Senhor que nos dê graça de chorar pela nossa indiferença,  pela crueldade do mundo, em nós e nas pessoas que no anonimato tomam decisões  socioeconómicas a nível mundial que abrem caminho a dramas como este", concluiu.

"Fugimos do nosso país por razões políticas e económicas", disse um  jovem imigrante ilegal que entregou uma carta ao Papa. 

O barco atracou no porto Punta Favarolo, onde um grupo pequeno de autoridades  locais esperava pela chegada de Francisco. 

O Papa celebrará hoje outra missa no campo desportivo Arena, na localidade  de Salina, onde de manhã se encontravam vários milhares de pessoas. 

O altar foi construído com um dos barcos usados por imigrantes e o cálice  foi esculpido por um artista de Lampedusa. 

O bispo de Roma chegou pouco antes das 09:00 hora local (07:00 hora  de Lisboa) à ilha, numa viagem que tem como objetivo mostrar ao mundo o  drama da imigração. 

Francisco viajou num Falcon 900 das forças armadas italianas que deslocou  do aeroporto de Ciampino (Roma) às 08:00 locais. 

Ainda antes da sua chegada, ao início da manhã uma embarcação com cerca  de 166 imigrantes ilegais foi intercetada pela Guarda Costeira. 

Os 166 imigrantes foram conduzidos para um centro de acolhimento, onde  outros 150 esperam ser enviados para outras cidades, sabendo-se que a maioria  será repatriada. 

Lusa

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