"Nunca um escrutínio decidirá tanta coisa ao mesmo tempo em França e na nossa União Europeia. Em todo o lado nos esperam!", declarou hoje François Hollande. Em Toulouse, Nicolas Sarkozy apelou aos seus concidadãos para "terem orgulho de serem franceses", numa resposta "aos estalinistas do século XXI" que o acusam de retomar os temas da extrema-direita. "Não quero deixar a França diluir-se na globalização", acrescentou o chefe de Estado francês aos seus apoiantes.
O ponto alto desta semana será o debate televisivo na próxima quarta-feira, o primeiro e único confronto direto entre os dois homens desde 2005. "A avaliar pelo tom e o fundo da campanha, o debate será áspero. Estou pronto!", afirmou hoje Hollande. "François Hollande vai ter que fazer o que ele detesta: ser franco!", lançou, pelo seu lado, Nicolas Sarkozy, que surge nesta campanha como o "challenger" face ao seu rival, antecipado nas sondagens como o sétimo presidente da V República (criada em 1958), com 54 a 55 por cento das intenções de voto.
O tom endureceu nos últimos dias entre os dois candidatos. O resultado histórico da extrema-direita na primeira volta, com cerca de 18 por cento dos sufrágios, levou Sarkozy a tomar como suas várias propostas de Marine Le Pen, líder da Frente Nacional.
A viragem à direita no discurso de Sarkozy, nomeadamente em matéria de segurança e de imigração, tem sido fortemente criticada pela esquerda e por várias fações apoiantes do presidente-candidato. "Não haverá ministros da Frente Nacional, não haverá acordo com a Frente Nacional, eles não farão parte da maioria", defendeu-se Sarkozy, afirmando sentir "subir a mobilização" de uma forma como "nunca" testemunhou em toda a sua vida política. "Haverá uma participação massiva", afirmou.
Entretanto, dois assuntos irromperam na campanha, as acusações do antigo diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn (DSK), e as suspeitas de financiamento ilegal pelo regime do antigo ditador líbio Muammar Kadhafi da campanha presidencial de Sarkozy em 2007.
O diário britânico The Guardian publicou o que apresentou como uma entrevista de Strauss-Kahn ao jornalista norte-americano Edward Epstein, na qual DSK acusa os seus adversários de se servirem do caso no Hotel Sofitel em Nova Iorque para fazerem abortar a sua candidatura a estas presidenciais.
A divulgação desta entrevista motivou uma acesa troca de acusações entre a esquerda e a direita e o próprio Sarkozy considerou que Strauss-Kahn "deveria ter pudor e estar calado". Mas os socialistas também não se sentem confortáveis com a associação a Strauss-Kahn. A candidata socialista às presidenciais de 2007 e antiga companheira de François Hollande, Ségolne Royal, deixou apressadamente uma festa de aniversário no sábado quando soube que o ex-diretor do FMI também tinha sido convidado.
Instigado pelas hostes de Sarkozy a "caucionar ou a denunciar" a presença de várias personalidades socialistas na festa, François Hollande considerou apenas que Strauss-Kahn "já não faz parte da vida política francesa" e "não há qualquer forma de voltar a ela".
Quanto ao segundo caso que está a dar que falar nesta fase da campanha, o "site" Mediapart publicou um documento em que deu conta de um "acordo de princípio" de Tripoli para financiar até 50 milhões de euros a campanha presidencial de Nicolas Sarkozy em 2007.
O "site" noticioso não revela que o financiamento aconteceu efetivamente, mas Sarkozy denunciou a "infâmia" e acusou o Mediapart de ser "um meio ao serviço da esquerda".
Lusa