Olhando para o painel de partida do aeroporto de Narita sobressaem os avisos a vermelho de cancelamentos, atrasos ou indefinição sobre a hora de partida das maioria das ligações aéreas.
Baixando a cabeça, a situação não é menos preocupante. Sacos de cama encontram-se por todos os cantos do aeroporto onde muitos passageiros se encostam em busca de conforto para as horas de espera a que ainda estão sujeitos, mas mantendo sempre a calma.
Não há qualquer confusão no aeroporto e alguns jornalistas movimentam-se nas áreas de partida e chegada à procura de relatos de pessoas que chegam e partem da capital japonesa ou de grupos de turistas que se vão concentrando no espaço.
Mas a concentração de pessoas no aeroporto só começou a ser notória já depois das 12:00 locais, a hora a que os comboios retomaram as ligações entre o centro de Tóquio e Narita e que têm sido efetuadas à custa de muitos atrasos.
Os comboios são, de resto, a única opção dos passageiros para chegarem ao centro de Tóquio, já que as estradas continuam cortadas.
Duas funcionárias da empresa Limousine Bus informavam hoje os passageiros que o serviço de "transfer" por autocarro para qualquer parte do Japão "está suspenso por tempo indeterminado".
"A autoestrada está cortada e por isso não podemos vender bilhetes de autocarro. Os autocarros não podem, para já, ir a lado nenhum. Apenas o comboio está a funcionar", explicavam.
Estas duas jovens japonesas relembraram em declarações à Lusa os momentos dramáticos que viveram na sexta-feira quando sentiram o chão a tremer a meio do seu turno: "Ficamos muito assustadas. O chão começou a abanar muito. Muitas pessoas entraram em pânico e nós escondemo-nos atrás do balcão".
"Já tínhamos sentido outros sismos, mas este foi muito forte e esta manhã voltamos a sentir réplicas", contavam ao salientar que nesses momentos, o medo regressa.
Devina, 33 anos, natural do Sri Lanka e residente em Tóquio, estava apenas a alguns minutos de distância de um hotel nas imediações do aeroporto onde ia passar a noite para de manhã esperar o seu marido.
"Foi muito assustador. Foi algo que nunca tinha experienciado na vida. Não consigo dormir desde ontem, porque ainda estou com medo", confessou à Lusa ao realçar que "já tinha sentido vários sismos em Tóquio, mas nada como este".
"Chamam-lhe o monstro ("monster quake") e de facto foi isso mesmo", destacou.
Andy Fergusson, australiano, estava a fazer a ligação aérea entre o sul do Japão e Tóquio onde ia apanhar o voo para Sidney, quando o seu voo foi desviado para Osaka depois da terra tremer no nordeste do país, o que o levou a optar por fazer o resto da viagem de comboio.
"O Aeroporto de Osaka estava cheio (...), muitos tentaram ir para hotéis perto do aeroporto que também estavam cheios", explicou.
O saco de cama e um livro fazem companhia a Andy no aeroporto de Narita enquanto aguarda informações sobre o seu voo de regresso a casa, como muitos outros.
Lusa