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Ex-dirigente dos Khmer Vermelhos condenado a 35 anos de prisão por crimes contra a humanidade

O ex-dirigente dos Khmer Vermelhos do Camboja Kaing Guek Kay foi hoje condenado, em Phnom Penh, a 30 anos de prisão por crimes de guerra e contra a humanidade pelo tribunal apadrinhado pela ONU. Vai no entanto cumprir apenas 19 anos por já ter cumprido 16.

Kaing Guek Kay, 64 anos, mais conhecido pelo nome de guerra "Duch", antigo professor de matemática, dirigiu o centro de tortura S-21, em Phnom Penh, onde estiveram detidos mais de 15.000 homens, mulheres e crianças antes de serem executados.



Kaing Guek Kay - que se converteu ao cristianismo nos anos 90 - foi preso em 1999 e transferido em 2007 para a custódia do tribunal encarregado de julgar ex-responsáveis do regime dos Khmer Vermelhos (1975-1979).



O tribunal anunciou hoje que "Duch" foi condenado a 35 anos de prisão, mas acabou por reduzir a pena para 30 anos devido a um período de detenção ilegal do acusado quando o tribunal com participação internacional não tinha ainda sido estabelecido.



O tribunal internacional entrou em funcionamento em 2006, depois de longas negociações entre as Nações Unidas e o governo de Hun Sen, primeiro ministro no poder no Camboja há mais de 23 anos e que pertenceu ao movimento dos Khmer Vermelhos a um nível subalterno, antes de se voltar contra os comunistas e de fugir para o Vietname.



Sobre o julgamento houve muita pressão política. Hun Sen nunca escondeu a irritação em relação ao colectivo formado por juízes cambojanos e estrangeiros, acusando estes últimos de receberem "ordens dos seus governos".



Além de violações graves das Convenções de Genebra de 1949 (crimes de guerra) e do código penal do Camboja de 1956 (assassínio com premeditação e tortura), "Duch" é acusado de "assassínios, exterminação, escravatura, detenção, violação, perseguição por motivos políticos e outros actos desumanos".



Numa audiência em 2009, "Duch" tinha manifestado remorsos pela situação, mas hoje argumentou que era um mero funcionário do regime e pediu a sua libertação.



Cerca de duas centenas de cambojanos prestaram hoje testemunho no julgamento, que contou com transmissão televisiva directa no Camboja e com a presença de muitos locais, incluindo sobreviventes do regime e monges budistas.



"Duch", um dos últimos sobreviventes entre os ex-líderes dos Khmer Vermelhos, foi o primeiro de cinco ex-dirigentes do regime a ser julgado e condenado pela participação nas atrocidades cometidas na década de 1970 e que causaram a morte a pelo menos 1,7 milhões de pessoas.



Os restantes quatro suspeitos, septuagenários ou octogenários e com um perfil mais político, estão actualmente detidos em Phnom Penh a aguardar julgamento, que se deverá realizar em 2011.



Cerca de dois milhões de pessoas, quase um quarto da população do Camboja, morreram durante o regime de terror dos Khmer Vermelhos, que, em nome de uma ideologia mista de maoísmo e nacionalismo, foi responsável pelo genocídio cambojano, tendo sido deposto por uma invasão vietnamita em 1979.



Lusa

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