Kaing Guek Kay - que se converteu ao cristianismo nos anos 90 - foi preso em 1999 e transferido em 2007 para a custódia do tribunal encarregado de julgar ex-responsáveis do regime dos Khmer Vermelhos (1975-1979).
O tribunal anunciou hoje que "Duch" foi condenado a 35 anos de prisão, mas acabou por reduzir a pena para 30 anos devido a um período de detenção ilegal do acusado quando o tribunal com participação internacional não tinha ainda sido estabelecido.
O tribunal internacional entrou em funcionamento em 2006, depois de longas negociações entre as Nações Unidas e o governo de Hun Sen, primeiro ministro no poder no Camboja há mais de 23 anos e que pertenceu ao movimento dos Khmer Vermelhos a um nível subalterno, antes de se voltar contra os comunistas e de fugir para o Vietname.
Sobre o julgamento houve muita pressão política. Hun Sen nunca escondeu a irritação em relação ao colectivo formado por juízes cambojanos e estrangeiros, acusando estes últimos de receberem "ordens dos seus governos".
Além de violações graves das Convenções de Genebra de 1949 (crimes de guerra) e do código penal do Camboja de 1956 (assassínio com premeditação e tortura), "Duch" é acusado de "assassínios, exterminação, escravatura, detenção, violação, perseguição por motivos políticos e outros actos desumanos".
Numa audiência em 2009, "Duch" tinha manifestado remorsos pela situação, mas hoje argumentou que era um mero funcionário do regime e pediu a sua libertação.
Cerca de duas centenas de cambojanos prestaram hoje testemunho no julgamento, que contou com transmissão televisiva directa no Camboja e com a presença de muitos locais, incluindo sobreviventes do regime e monges budistas.
"Duch", um dos últimos sobreviventes entre os ex-líderes dos Khmer Vermelhos, foi o primeiro de cinco ex-dirigentes do regime a ser julgado e condenado pela participação nas atrocidades cometidas na década de 1970 e que causaram a morte a pelo menos 1,7 milhões de pessoas.
Os restantes quatro suspeitos, septuagenários ou octogenários e com um perfil mais político, estão actualmente detidos em Phnom Penh a aguardar julgamento, que se deverá realizar em 2011.
Cerca de dois milhões de pessoas, quase um quarto da população do Camboja, morreram durante o regime de terror dos Khmer Vermelhos, que, em nome de uma ideologia mista de maoísmo e nacionalismo, foi responsável pelo genocídio cambojano, tendo sido deposto por uma invasão vietnamita em 1979.
Lusa