Em janeiro deste ano, Bad Bunny revelou ao mundo DeBÍ TiRAR MáS FOToS, um projeto musical que soa como uma carta de amor à sua terra-natal, a ilha caribenha de Porto Rico. Juntamente com o álbum, anunciou uma digressão mundial que parece abranger todos os cantos do planeta... exceto os Estados Unidos. Ao longo do ano, muito se especulou sobre esta decisão, que o artista porto-riquenho veio agora esclarecer.
Em entrevista à revista britânica i-D, Bad Bunny explica que a sua decisão está relacionada com vários motivos, sendo um deles o receio de que a Agência de Imigração e Fiscalização dos Estados Unidos (ICE) utilizasse os seus concertos para fazer rusgas e assim prender e deportar cidadãos latinos.
“Houve muitas razões para eu não ter ido aos EUA, e nenhuma delas foi por ódio... já fiz lá muitos concertos. Todos foram um sucesso e muito bons. Mas havia o problema de o pessoal do ICE poder estar à porta do meu concerto. Era algo de que estávamos a falar e que nos preocupava bastante."
Desde que tomou posse como Presidente dos Estados Unidos, em janeiro deste ano, Donald Trump deu início àquilo que considera ser a "maior operação de combate à imigração da história" do país.
Uma relação marcada por tensões políticas
A relação que os Estados Unidos mantêm com Porto Rico também não parece ajudar, já que existe um histórico de tensões políticas, que Bad Bunny tem vindo a abordar de forma consistente, tanto na sua música como através das redes sociais.
Durante um comício de Donald Trump para as eleições presidenciais, o comediante norte-americano Tony Hinchcliffe descreveu Porto Rico como "uma ilha flutuante de lixo".
Na altura, Bad Bunny reagiu através da sua conta na rede social Instagram, onde defendeu o povo porto-riquenho, elogiando a sua força e resiliência: “Para aqueles que se esquecem de quem somos, não se preocupem: nós vamos lembrar-vos".
Mais tarde, partilhou um vídeo da campanha de Kamala Harris, no qual a então vice-Presidente criticava Donald Trump pela forma como lidou com os furacões que devastaram a ilha, referindo-se à resposta do Presidente, que chegou a questionar o número real de vítimas causadas pelas passagens dos furacões Maria e Irma, em 2017.
A barreira linguística (e não só) que divide os dois países
Porto Rico tornou-se território dos Estados Unidos após a Guerra Hispano-Americana em 1898. Em 1917, os porto-riquenhos receberam a cidadania americana, mas sem direito a votar nas eleições presidenciais, a menos que residissem no continente.
Em março deste ano, Donald Trump assinou uma ordem executiva que declarava o inglês como idioma oficial de Porto Rico, gerou preocupações quanto ao possível apagamento cultural da ilha.
A decisão foi vista como uma ameaça à identidade linguística e afetou diretamente a maioria da população porto-riquenha, cuja língua materna é o espanhol.