O climatologista Mário Marques alerta que há razões para estarmos "muito preocupados" com os recordes de temperaturas e acusa os líderes políticos de "hipocrisia". A nível global, este verão foi o mais quente de sempre, foi esta sexta-feira anunciado.
Para evitarmos novos recordes de temperaturas seria preciso alterar o estilo de vida e "parar completamente", ou seja, ter um cenário "muito semelhante" ao da pandemia de covid-19, mas "muito mais rigoroso, apocalíptico", explica o climatologista.
Em entrevista na SIC Notícias, diz que há razões para estarmos "muito preocupados". "Estamos de mãos atadas", considera.
Cada vez chove menos no planeta e os números de dias de neve também são cada vez menos. Na Antártida, o gelo está a diminuir "de ano para ano". Isto indica, explica o especialista, que a temperatura mínima, que é a principal causa do aquecimento da atmosfera, está a subir "de forma considerável".
"Na região do Ártico, temperatura está 3 ou 4 graus acima da média", indica.
Mário Marques refere ainda que a desflorestação é também um dos "principais fatores" para que a atmosfera aqueça.
Na mesma entrevista, acusa os líderes políticos de "hipocrisia":
"Mais preocupados devem estar os atores políticos, que assinam acordos, mas não passa disso".
Verão de 2024 foi o mais quente de sempre a nível global
As temperaturas médias globais durante os três meses de verão (junho, julho e agosto) foram as mais altas já medidas, ultrapassando o recorde de 2023, anunciou esta sexta-feira o Observatório Europeu Copernicus.
Vários países como Espanha, Japão, Austrália e várias províncias da China anunciaram esta semana terem medido níveis históricos de calor relativos ao mês de agosto.
A nível global, agosto de 2024 vai igualar o recorde de temperatura para o mesmo mês estabelecido em 2023, ou seja, 1,51 graus Celsius (°C) acima da média do clima pré-industrial (1850-1900), ou seja, acima do limiar de 1,5°C que constitui o objetivo mais ambicioso do acordo de Paris de 2015.
Este limiar, que se tornou emblemático, já foi ultrapassado em 13 dos últimos 14 meses, de acordo com dados do Copernicus, ligeiramente diferentes dos institutos norte-americano, japonês ou britânico.
Nos últimos 12 meses, a temperatura média foi 1,64°C mais quente do que na era pré-industrial, referiu. O ano 2023 terminou com um registo de 1,48°C e 2024, marcado por ondas de calor, secas ou inundações extremas, tem grandes probabilidades de se tornar no primeiro ano civil a ultrapassar o limiar.
Os registos de Copérnico datam de 1940, mas estas temperaturas médias não têm precedentes há pelo menos 120 mil anos, de acordo com dados da paleoclimatologia, estabelecidos em particular através de núcleos de gelo e sedimentos.
Os recordes de calor no globo são alimentados por um sobreaquecimento sem precedentes dos oceanos (70% do globo), que absorveram 90% do excesso de calor causado pela atividade humana.
Na quinta-feira, a China anunciou ter registado o mês de agosto mais quente desde 1961.
Os recordes de calor em agosto são sinónimo de "alerta vermelho", declarou na quarta-feira, em Singapura, a diretora da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência das Nações Unidas.