Familiarmente

Doença mental: o que ainda falta fazer para a igualdade no acesso aos cuidados

A conferência “Familiarmente: a Saúde Mental das famílias em Portugal” decorre na próxima quinta-feira, 10 de outubro, no Palco Impresa e vai abordar temas como a esquizofrenia, a depressão, o suicídio e a reforma da saúde mental em curso. O projeto da Johnson & Johnson Innovative Medicine conta com o apoio do Expresso como media partner

Rita Seabra Gomes

Nos últimos anos, também fruto do contexto da pandemia, houve um aumento da consciencialização para a importância da saúde mental. Mas apesar de se falar mais e de se verificar uma maior literacia relativamente ao tema, as respostas disponíveis para a população são ainda “largamente insuficientes”. “Desde logo na falta de recursos humanos nos serviços e instituições do Serviço Nacional de Saúde, e em questões relacionadas com a dificuldade no acesso à inovação terapêutica”, aponta João Bessa, presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental.

O responsável acrescenta ser também “gritante” o problema da morosidade na introdução no mercado de novos medicamentos que vão sendo aprovados. “Tem muito a ver com o funcionamento das entidades que regulamentam a introdução destes medicamentos e que podem não estar a valorizar corretamente a importância da saúde mental”, diz.

Em Portugal estima-se que mais de 12% da população com 15 ou mais anos viva com esta doença, número acima da média da União Europeia de 7,2%. Os casos de pessoas com esquizofrenia estão estimados em mais de 45 mil, sendo o suicídio a principal causa de morte prematura em pessoas jovens com esta patologia. É uma doença mais frequente do que a doença de Alzheimer e a esclerose múltipla, mas muito menos falada por questões de estigma.

100

mil é o número de pessoas estimadas com doença mental muito grave e crónica em Portugal

A nova Lei de Saúde Mental, que entrou em vigor em agosto de 2023, veio dar mais direitos e garantias às pessoas com necessidades de cuidados de saúde mental, mas é precisamente este “estigma” da doença que continua a colocar o doente na sombra. “Ainda que tenha aumentado muito a literacia em saúde mental, é preciso que a sociedade em geral veja a doença mental como vê já a sida, ou encara os diabetes ou a doença cardíaca ou renal. Mas como esta é uma doença que afeta o comportamento e pensamento há muitos mitos, estigmas e estereótipos”, diz Joaquina Castelão, presidente da Familiarmente – Federação Portuguesa das Associações das Famílias de Pessoas com Experiência de Doença Mental.

“É preciso uma maior sensibilização da sociedade em geral, mais informação e, acima de tudo, começar com os jovens de tenra idade nas escolas, com programas relacionados com saúde no geral, onde seja também abordada a importância da saúde e doença mental. É uma realidade que afeta cerca de 25% da população a nível mundial e Portugal não é exceção”, alerta Joaquina Castelão.

A responsável lembra que cerca de 1% das pessoas que sofrem de doença mental são portadoras de doença muito grave e crónica que, apesar de serem patologias sem cura, têm tratamento pela via farmacológica e com terapias complementares. “Ainda é muita gente, não podem ser abandonados. Somos dez milhões e quase 500 mil habitantes em Portugal, segundo o Censos 2021, e estima-se que sejam cerca de 100 mil as pessoas que têm de estar em residências comunitárias próprias. Estavam previstos 500 lugares para desinstitucionalizar doentes internados e mesmo estes não dariam resposta a todos, mas seria um início”, diz.

“Os hospitais são para tratamento na crise mas, por falta de resposta, as pessoas vão lá ficando”, diz Joaquina Castelão

O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) direcionou investimento para a saúde mental que garantiu o melhoramento e construção de novas infraestruturas, como instalações para internamento e ambulatório de vários serviços de psiquiatria, bem como a constituição de equipas comunitárias de saúde mental e a expansão da Rede de Cuidados Continuados de Saúde Mental.

“O investimento está a ser feito sobretudo em equipamentos e equipas de intervenção comunitária que vem colmatar um atraso no nosso país relativamente à proximidade dos cuidados de saúde mental da nossa população, nomeadamente nos casos de saúde mental grave. O grande investimento é aí”, explica João Bessa alertando, porém, que a par do que está a ser feito é preciso também um investimento nos recursos humanos e na diferenciação técnica em áreas especializadas de intervenção. “(o investimento) não resolve questões de fundo como a dos recursos humanos no contexto de urgência. As vagas disponíveis para internamento também têm sido problema”, conclui.

Familiarmente: a Saúde Mental das famílias em Portugal

O que é?

O Expresso e a Johnson & Johnson Innovative Medicine reúnem especialistas para debater a saúde mental das famílias em Portugal, nomeadamente o acesso aos cuidados e a reforma da saúde mental em curso. Serão ainda abordados temas como a esquizofrenia, a depressão e o suicídio e as respostas dadas a estas situações.

Quando, onde e a que horas?

O evento terá lugar na próxima quinta-feira, 10 de outubro, no Palco Impresa, a partir das 09.30h.

Quem são os oradores?

  • João Bessa, presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental
  • Joaquina Castelão, presidente da Familiarmente – Federação Portuguesa das Associações das Famílias de Pessoas com Experiência de Doença Mental
  • Ana Matos Pires, membro da Coordenação Nacional das Políticas de Saúde
  • Sofia Tavares, professora da Universidade de Évora

Porque é que este tema é central?

Entre os países europeus, Portugal é um dos com maiores índices de depressão. Mais de 12% das pessoas em Portugal com 15 ou mais anos vivem com esta doença, comparativamente à média da União Europeia de 7,2%. A consciencialização para a importância da saúde mental tem tido um aumento significativo, que se reflete no investimento e aplicação de políticas como a implementação da reforma da saúde mental, atualmente em curso.

Onde posso assistir?

Simples, basta clicar aqui.

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