Violência doméstica

Crimes passionais: o que leva alguém a matar quem diz que ama?

Há pessoas que matam por ciúmes ou raiva. Não aceitam ser rejeitados num relacionamento. Todos os anos, a violência doméstica faz vítimas em Portugal. Ana Rita é a mais recente, às mãos de um ex-companheiro, em Matosinhos. Mas não é caso único. Noel desmembrou o namorado, João atropelou Daniela e antes já tinha matado outra ex-namorada, e Pedro degolou Alcinda à frente dos dois filhos.

Ana Paula Félix

João Lúcio

Flávio Valente

O que leva alguém a matar quem diz que ama? O motivo é sempre a vingança, o ciúme, a posse ou a raiva. Não o amor que se presume ser sempre protetor. Em Portugal este tipo de crime está enquadrado no âmbito da violência doméstica.

Ana Rita é a mais recente vítima de violência doméstica

Tinha 26 anos e vivia com o atual companheiro em São Mamede de Infesta, concelho de Matosinhos. No início da semana, os gritos da jovem foram ouvidos por uma vizinha e pela avó que mora no piso superior da habitação.

Com sinais de esfaqueamento no corpo, conseguiu abrir a janela e pedir socorro, mas o agressor puxou-a para dentro, matou-a e fugiu.

O namorado de 23 anos encontrava-se na casa de banho, também esfaqueado. Foi transportado e internado em estado grave no Hospital de São João no Porto.

A vítima e o alegado homicida de 25 anos terão mantido um relacionamento amoroso durante um ano. David Marinho entrou em casa da antiga companheira com uma chave que tinha, porque a jovem ainda não havia mudado a fechadura.

O suspeito foi detido no aeroporto de Lisboa, quando se preparava para viajar para o Brasil. Ao mostrar o passaporte na área do check-in, o nome já tinha sido inserido no sistema informático gerido pela PSP com a informação de que se tratava de um fugitivo.

Noel desmembrou o namorado no apartamento onde viviam

Em julho, Noel Remedios foi condenado a 25 anos de prisão por um crime de homicídio qualificado e profanação de cadáver. Estava acusado de ter assassinado e desmembrado o corpo do namorado. O crime ocorreu em março de 2024, no apartamento onde o casal vivia, na zona da Lapa, em Lisboa.

Noel Remedios e Paulo Machado tinham regressado de Espanha onde trataram do testamento do arguido, que deixava todos os bens ao companheiro.

Em tribunal, ficou provado que uma discussão motivada por ciúmes levou Noel, de 49 anos, a desferir quatro golpes com uma faca de cozinha à vítima, de 36 anos. Depois cortou o corpo em duas partes. A metade inferior foi encontrada dentro de um saco junto a um caixote do lixo perto de casa.

A Polícia Judiciária suspeita que a parte superior tenha sido recolhida pelos serviços de higiene e posteriormente incinerada. Os bens da vítima terão sido deitados ao rio, na Ponte 25 de Abril.

João matou Daniela e antes já tinha matado outra ex-namorada

Há dois meses, outra condenação: a de João Pedro Oliveira, de 43 anos, condenado à pena máxima, 25 anos de prisão. A 6 de junho de 2024 atropelou mortalmente Daniela Padrino, de 36 anos.

O homicida deslocou-se de carro até ao local de trabalho da ex-companheira em Matosinhos. Esperou que saísse e começasse a caminhar. De seguida acelerou fortemente, subiu o passeio e embateu com o carro contra a vítima.

Em tribunal ficou provado que o arguido repetiu por sete vezes as manobras de avanços e recuos. A acusação lembrou que "passou com os rodados do veículo por cima do corpo da vítima, com especial incidência na zona da cabeça, provocando-lhe a morte".

A vítima já tinha apresentado queixa contra o ex-companheiro, que nunca aceitou o fim da relação.

Quando matou Daniela, o agressor encontrava-se em liberdade condicional por ter matado outra ex-namorada com uma faca em Castelo Branco. Tinha cumprido 10 dos 15 anos de prisão a que fora condenado.

Pedro degolou Alcinda à frente dos dois filhos

Na prisão desde o início deste ano, a aguardar julgamento, está um homem de 45 anos. Pedro Antiqua está em prisão preventiva indiciado de homicídio qualificado. Terá sido na sequência de mais uma discussão conjugal que o homem pegou numa tesoura e degolou a companheira, Alcinda Cruz, de 46 anos.

A vítima apresentava também uma perfuração no tórax. Morreu na presença dos dois filhos do casal, de 14 e 6 anos, no apartamento onde viviam no Barreiro. Neste caso, o filho mais velho tentou impedir as agressões. Foi ele que ligou para o 112.

Mas quando os meios de socorro chegaram, Alcinda Cruz já não apresentava sinais vitais.

Junto ao corpo da vítima foram encontradas as alegadas armas do crime: uma tesoura e uma faca. O alegado homicida fugiu. Apresentou-se duas horas depois na esquadra da PSP do Barreiro.

A vítima já tinha apresentado queixa contra o agressor em 2022, que acabou por ser arquivada. Ainda assim, vizinhos e amigos do casal garantem que nunca se aperceberam de situações de violência entre a vítima e o suspeito.

Os dois filhos do casal receberam apoio psicológico e foram entregues a familiares.

Alcinda Cruz foi a primeira vítima mortal em 2025. No ano passado, foram assassinadas 22 pessoas em Portugal vítimas de violência doméstica. Às autoridades chegaram mais de 30 mil queixas.

Últimas