TAP: o futuro e as polémicas

Hugo Mendes ouvido na comissão de inquérito à TAP

O ex-secretário de Estado das infraestruturas esteve envolvido nas negociações do valor da indemnização de Alexandra Reis e também foi quem pediu à ex-CEO para ajustar um voo da TAP conforme a agenda do Presidente da República.

MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Maria Madalena Freire

SIC Notícias

Hugo Mendes, ex-secretário de Estado de Pedro Nuno Santos na pasta das Infraestruturas foi ouvido esta quarta-feira na comissão de inquérito à TAP, onde deu várias explicações sobre negociações com a administração da companhia aérea, especialmente a indemnização de Alexandra Reis.

Está aberta a última ronda de audições com Hugo Mendes, seguindo-se Pedro Nuno Santos e Fernando Medina, ministro das Finanças, que fechará os inquéritos da tutela da TAP.

PS chumba requerimentos

Antes do começo da audição, o grupo de trabalho da comissão teve que discutir requerimentos de vários partidos, nomeadamente o do PSD que requer que seja extraída certidão da ata da audição do Ministro João Galamba, bem como remessa da mesma para a Procuradoria­Geral da República, com vista à instauração do competente inquérito de natureza criminal.

Neste sentido, o PS chumbou o envio da ata, acompanhado pelo PCP.

De acordo com as audições do ministro das Infraestruturas e do secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Mendonça Mendes, sendo contraditórias, alguns partidos políticos, especialmente o PSD, consideram que João Galamba mentiu na comissão de inquérito.

O secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro disse na terça-feira, no Parlamento, que não deu qualquer indicação para contactar o SIS, no caso do computador de Frederico Pinheiro.

Mendonça Mendes confirmou apenas que, na noite dos incidentes, chegou mesmo a falar ao telefone com Galamba. No entanto, o ministro das Infraestruturas tinha dito que a indicação veio mesmo do gabinete do primeiro-ministro, através de Mendonça Mendes.

No que diz respeito ao requerimento do Chega, que pretendia trazer, de novo, João Galamba à comissão de inquérito, também foi chumbado pelo PS e, novamente, o PCP.

Os outros dois requerimentos do partido liderado por André Ventura, que pretendiam trazer o Diretor ­Geral do Gabinete Nacional de Segurança e o ex-Presidente da Parpública, de novo, também foram chumbados pelo PS.

Esclarecimentos de Hugo Mendes

Hugo Mendes iniciou a sua declaração a defender o trabalho feito para a restruturação da TAP, sendo uma "história de sacrifícios, suor e lágrimas" dos trabalhadores, com a ajuda dos contribuintes e do Governo.

Pressões externas, nomeadamente de agentes políticos, motivavam a proteção do Governo à TAP, segundo o ex-secretário de Estado, e Hugo Mendes deu exemplo de declarações do ex-líder do PSD, Rui Rio, que afirmava, na altura da política ativa, que, se a TAP era pública, teria de servir os portugueses e não se podia concentrar num só sítio, como Lisboa.

“O Ministério das Infraestruturas não cedeu a pressões e protegeu a TAP de todas as pressões para que tivessem cumpridas todas as metas para cumprir o plano”, esclareceu.

“Penalizo-me naturalmente”

No que diz respeito ao e-mail sobre a alteração do voo de Marcelo Rebelo de Sousa, Hugo Mendes esclareceu que se limitou a partilhar uma opinião e não uma instrução.

“Penalizo-me naturalmente pelo comentário que fiz junto da ex-CEO sobre o voo do Presidente da República, embora quisesse só sinalizar junto de alguém que tinha uma relação profissional de confiança, o apoio que o senhor Presidente da República deu à difícil decisão do Governo de resgatar a TAP em 2020 Reconheço que não devia ter emitido nem partilhado aquela opinião.”, admitiu.

Mais. O ex-secretário de Estado acrescenta que a opinião que emitiu era só isso, não uma instrução, tendo em conta que Christine Ourmières seguiu com o seu próprio discernimento e acabou por não alterar o voo para se adequar à agenda de Marcelo.

“Puxámos o travão de mão”

O Ministério das Infraestruturas não teve conhecimento prévio, só através da comunicação social e gerou imediatamente alarme social.

“Em poucas horas, o caso deixou de ser um problema de gestão da TAP, mas político e, por isso, passa a ser do âmbito da política e dissemos à TAP para reverter a decisão. Puxámos o travão de mão, para resolver o que se tinha transformado num furacão político”, admitiu.

Em outubro de 2022, a TAP anunciou a renovação da frota automóvel de luxo, argumentando que iria poupar 630.000 euros.

A companhia tinha encomendado 79 BMWs, mas após a polémica instalada, com o Presidente da República a apelar ao “bom senso”, a administração voltou atrás na decisão e optou pelo prolongamento do contrato de leasing dos automóveis antigos.

“500 mil euros pareceu passível de ser aceite"

No que diz respeito à cessão das funções da ex-administradora da TAP, Alexandra Reis, que foi indemnizada em 500 mil euros, Hugo Mendes esclarece que o objetivo era “dar as melhores condições exigidas”.

“O essencial que explica o acordo dado pelo Ministério das Infraestruturas ao pedido da ex-CEO para a saída de Alexandra Reis é claro: dar as melhores condições que a líder da equipa executiva reclamava para cumprir a missão de executar o plano”, explicou.

Já em relação à “avultada” indemnização, Hugo Mendes admitiu que “500 mil euros pareceu passível de ser aceite”, apesar de não ter negociado, nem ter definido nenhum valor concreto.

Foi em recomendação da CEO e o facto de ser um terço da proposta inicial feita por Alexandra Reis, que Hugo Mendes considerou ter sido um “ponto de equilíbrio possível entre a defesa dos interesses da empresa e a salvaguarda dos direitos da administradora”.

Tempo depois, Alexandra Reis foi convidada para presidir à NAV, algo que o ex-secretário de Estado admitiu ser compreensível, tendo em conta que reunia condições para o cargo.

“Experiência como administradora de uma empresa, conhecimento amplo do mundo da avião e competências de liderança e enorme capacidade de trabalho”, enumerou.

Comunicado da CMVM

Hugo Mendes disse que o Governo não teve nada a ver com o comunicado da CMVM, onde divulga a saída de Alexandra Reis da TAP por renúncia e remete responsabilidade para a administração da companhia aérea.

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