O presidente do Chega considerou esta terça-feira que o Governo está a "reconhecer que vai deixar cair" a redução do IRC e a "capitular ao PS e à esquerda" nessa matéria e "provavelmente" abandonará também a proposta de IRS Jovem.
Em declarações aos jornalistas à margem de uma visita a uma fábrica de rebuçados, na Amadora, André Ventura disse que o acordo conseguido esta terça-feira em sede de concertação social foi "pouco ambicioso" e, para os parceiros sociais, "um dos mais difíceis de aceitar dos últimos anos".
Acusou o Governo de percorrer o mesmo caminho do Partido Socialista em matéria de impostos e desvalorizou o anúncio da proposta "irrecusável" do primeiro-ministro.
“Este deveria ser o orçamento da descida dos impostos e pelo que vemos do Governo de Luís Montenegro ele já está a voltar atrás numa matéria tão importante como é a descida dos impostos. Eu já não sei o que dizer mais ao primeiro-ministro de que assim não é um caminho de direita é um caminho de esquerda igualzinho ao do partido Socialista. Diz que vai trazer uma proposta irrecusável a dias de chegar à Assembleia da República o documento, quer dizer, teve meses para o trabalhar, teve meses para o construir, teve meses para o negociar e agora diz que vai chegar uma proposta irrecusável”, disse.
Sobre este assunto, acrescentou ainda que “dizem muito pouco aos portugueses também. O que era irrecusável era terem feito um bom orçamento de transformação à direita. Era isso que era indispensável e era possível… que o Governo não quis fazer. Agora estamos à beira, infelizmente, de uma crise e que , eu repito, é da única responsabilidade do Partido Socialista e do Partido Social Democrata”.
Referindo-se à exclusão no acordo de rendimentos de uma referência explícita à redução da taxa de IRC, o líder do Chega afirmou que o executivo está a "reconhecer que vai deixar cair uma das medidas mais estruturantes" e, assim, a mostrar que não compreende as empresas nacionais e a "capitular ao PS e à esquerda".
"As nossas empresas, como aquela que nós vamos visitar hoje, estão cheias de impostos, estão cheias de burocracia, precisavam mesmo de uma reforma, portanto eu não sei a que boa-fé que o senhor primeiro-ministro se está a referir", disse, referindo-se às palavras de Montenegro, de que só não haverá orçamento aprovado se falhar a "boa-fé negocial dos dois maiores partidos".
Ventura sustentou que, mesmo não sendo referido por Montenegro neste pedido de "boa-fé", o Chega "está à vontade porque desde março teve essa boa-fé" e acusou o primeiro-ministro de fazer um "número político para provocar eleições e provocar uma crise política no país".
Questionado sobre se considera que o Governo acabará também por ceder ao PS no IRS Jovem, André Ventura respondeu que "provavelmente" será assim, para logo concluir que essas cedências, a acontecerem, "serão inaceitáveis".
"O que vemos é o PSD a ceder em toda a linha ao PS, que nos levou onde levou", frisou.
O líder do Chega levantou ainda a questão dos preços dos combustíveis, lamentando que, estando "o preço do petróleo nos valores mais baixos dos últimos anos", os consumidores portugueses "estão a pagar mais pelos combustíveis".
O partido vai "exigir que, independente do que venha a acontecer no orçamento, o Governo bloqueie a taxa de carbono", de modo a limitar as subidas nos preços dos combustíveis.
Sobre o Conselho de Estado, que está agendado para esta tarde, Ventura reiterou que transmitirá aos seus membros que "não houve falta nenhuma de boa-fé" por parte do Chega para negociar o orçamento.
Ventura antecipou que, "estando presentes os líderes do principais partidos que decidirão o OE", a questão orçamental deverá ter um "peso importante" no encontro desta tarde.
"A nossa posição é tranquila porque não é secreta, nem é escondida, é pública. Houve oportunidade de o fazer à direita, queríamos um orçamento diferente, o Governo nunca o quis e foi sempre arrogante e unilateral. Isto que está a acontecer agora é só número político, é número político de ensaio, de artifício, para ensaiar eleições", afirmou.
Com Lusa