Chegou até a mim dentro de uma cesta vinda do Entroncamento. Viria a descobrir mais tarde que, de facto, é um verdadeiro fenómeno. Não vinha sozinha. Estava acompanhada de dois irmãos, mas bastou olhar para ela uma vez e a escolha estava feita. Logo eu que, até ali, não acreditava no amor à primeira vista.
Tinha poucos meses e vivia na rua. Nas primeiras semanas ficou doente. Durante vários dias tive que passar a dar-lhe um comprimido e outro medicamento com uma seringa. Toda a gente me dizia que ia ser muito complicado porque os gatos não se deixam tratar. Nada disso. Acho que a partir daí a Lua percebeu que podia confiar em mim. Recuperou, cresceu e depressa mostrou de que raça era.
Os anos foram passando e a bebé que cabia na minha mão tem hoje quatro quilos e tornou-se uma déspota. Completamente inflexível. A casa é dela, a dona é dela e nunca gostou de as partilhar.
As birras nos dias de festa
Durante anos, havia festas com frequência e muitos jantares em casa. Nesses dias, a Lua subia ao primeiro andar e só voltava a vê-la quando a última pessoa ia embora. Os amigos bem tentavam chegar até ela, mas depressa desistiam da ideia.
Os mais corajosos que insistiam levavam quase sempre de recordação um belo arranhão. Diziam muitas vezes que a minha gata era má. Não é, o que tem de rebelde também tem de meiga. Contrariada, é que nem pensar. É quando ela quiser. É ela que manda.
Dez anos para se render ao meu presente
Quando mudámos de casa, decidi comprar-lhe uma cama nova. A que tinha estava velha, muito arranhada e já era pequena. Um dia cheguei a casa feliz por levar um presente. Tentei vender-lhe a cama nova das mais variadas maneiras. Nada resultou.
Durante 10 anos, nem uma vez a vi lá deitada. Claro que nunca deitei fora a outra velhinha, onde teimava dormir. Um dia cheguei a casa e estava na cama nova, mas não pensem que se rendeu totalmente. Volta e meia, ainda dorme na cama onde quase já não cabe. Lá está, é ela que manda.
Uma gata com mau perder
Apesar dos meus amigos não conseguirem grandes aproximações, eu faço trinta por uma linha, como se costuma dizer, à minha gata. Não há um dia que não a arrelie. Autênticas guerras, que ela adora, pois não vira as costas a um desafio e nunca se dá como vencida. A última palavra tem que ser sempre dela. Quando penso que já acabou a brincadeira, lá vem patada ou arranhão. A guerra acaba quando ela entende. É ela que manda.
A minha gata quer ser vegetariana
Toda a gente sabe que os gatos estragam coisas em casa. A Lua estragou ligeiramente dois sofás, um pilar de madeira no andar de cima da casa e vários tapetes. Se eu me importo? Não.
O problema maior é mesmo a Lua querer ser uma espécie de gata vegetariana. Adora as plantas de casa e não vale a pena tentar enganá-la com as ervinhas que se compram para os gatinhos comerem. Basta virar as costas.
Às vezes consigo ouvi-la pela casa a trincar folhas. Claro que vou pesquisando frequentemente quais as plantas que fazem mal aos animais. Já tentei de tudo. Não adianta. Afinal, é ela que manda em casa.
São 18 anos com muitas histórias para contar. Prometo escrever mais sobre as birras da minha gata. Sim, há mais. Vou tentar contar também os sustos que fui apanhando como, por exemplo, o dia em que tentou fazer malabarismo com fogo. Não se preocupem, acabou tudo bem.
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