Mundial feminino

Reparou nas novas bandeiras no Mundial feminino? Eis porque são importantes

Os Governos australiano e neozelandês fizeram um pedido à FIFA para que fossem alterados os regulamentos do Campeonato do Mundo feminino e o organismo aceitou.

Bandeira da Austrália, do povo aborígene e do povo das Ilhas do Estreito de Torres (da esquerda para a direita)
Maddie Meyer - FIFA

Mariana Saraiva

O Mundial Feminino de Futebol começou, esta quinta-feira, e já houve um momento que deixou todos curiosos.

Enquanto a Austrália jogava a partida inaugural contra a Irlanda, duas bandeiras eram abanadas: uma preta, vermelha e amarela, que representa a população indígena da Austrália; a outra, azul, verde e branca, é a bandeira do povo da Ilha do Estreito de Torres, um grupo indígena da costa nordeste da Austrália.

Do outro lado do mar, a bandeira da coanfitriã Nova Zelândia foi acompanhada por uma outra, preta, vermelha e branca, que representa o povo maori, nativos do país.

De acordo com o jornal norte-americano The Washington Post, as bandeiras indígenas contrastam com as bandeiras nacionais da Austrália e da Nova Zelândia, que incluem a Union Jack no canto superior esquerdo - um símbolo do legado colonial britânico nos dois países.

Porque é isto notícia?

Os Governos australiano e neozelandês fizeram um pedido para que fossem alterados os regulamentos do Campeonato do Mundo feminino. Ao que a FIFA acedeu e, pela primeira vez, foram alterados os regulamentos para que as bandeiras dos povos indígenas possam ser hasteadas.

"Estas bandeiras expressam um espírito de respeito mútuo, identidade nacional e o reconhecimento das culturas indígenas para os nossos anfitriões", disse o Gianni Infantino, presidente da FIFA

Nos dois países, o legado da colonização persiste até aos dias de hoje. Reconhecer a cultura dos Primeiros Povos faz parte de uma luta contínua na Austrália e na Nova Zelândia.

Os documentos oficiais do Mundial feminino incluem os nomes dos anfitriões, em inglês, e dos Primeiros Povos, como Nova Zelândia/Aotearoa e Brisbane/Meanjin.

"É hora do futebol ir mais além do simbolismo e passar a apoiar substancialmente os povos indígenas em todo o lado", escreveu o Conselho Australiano de Futebol Indígena numa carta dirigida ao presidente da FIFA.


Qual é o significado das bandeiras indígenas?

Na bandeira aborígene o preto representa o povo, em cima de terra vermelha, com o sol amarelo ao centro.

O povo das Ilhas do Estreito de Torres tem uma cultura relacionada, mas distinta, da cultura aborígene. A bandeira apresenta duas riscas verdes e pretas para a terra e o povo, ladeando um campo azul para o mar, por detrás de um toucado branco e de uma estrela de navegação de cinco pontas.

Já, a bandeira nacional maori surgiu na década de 1980, inspirada pelo uso da bandeira aborígene na Austrália, também como parte de um movimento de protesto indígena. A bandeira foi pensada por um grupo de mulheres e apresenta o símbolo da folha de samambaia conhecido como koru, que simboliza uma nova vida, renovação e esperança para o futuro.

O que significa hastear as bandeiras dos Primeiros Povos?

Os membros da comunidade dos Primeiros Povos lutaram para que as bandeiras fossem hasteadas.

"É a primeira vez que a FIFA cede a isto (...) ter bandeiras indígenas ou qualquer outra bandeira que não seja a nacional num Campeonato do Mundo", disse John Maynard, membro do Grupo Consultivo Nacional Indígena de Futebol Australiano.

"É muito, muito importante para os aborígenes da Austrália e também para os maoris da Nova Zelândia que as bandeiras sejam exibidas, reconhecidas e celebradas com destaque no Campeonato do Mundo", referiu.

A FIFA nomeou um conselho consultivo exclusivamente feminino de especialistas em Primeiros Povos, com o nome "First Sisters of Country Whanau by Sea and Sky". Whanau significa ‘família’ em maori.

A antiga jogadora indígena australiana, Karen Menzies, faz parte do painel e referiu que as bandeiras eram "uma questão-chave", acrescentando que "foi muito importante porque queríamos ser uma voz para as nossas comunidades e famílias".

"Ter a bandeira representa a nossa voz nesta competição", concluiu.

James Johnson, presidente da Federação Australiana de Futebol, descreveu a decisão da FIFA como "um momento importante para todos os australianos, em particular para os povos indígenas".

O presidente da Federação de Futebol da Nova Zelândia, Andrew Pragnell, disse que esta decisão é "um símbolo poderoso" da parceria entre o Governo neozelandês e os maori "que é a base deste país".

Há muito que o desporto desempenha um papel importante em destacar a cultura dos Primeiros Povos da Austrália e da Nova Zelândia.

Exemplo disso é o famoso "haka" - dança típica do povo maori, usada para dar as boas-vindas a visitantes e tribos inimigas, feito há mais de um século pela equipa masculina de râguebi da Nova Zelândia.

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