Luanda Leaks

Luanda Leaks: Advogados de Isabel dos Santos em Portugal garantem desconhecer a origem do dinheiro

A filha do ex-Presidente de Angola estará a pagar aos seus advogados, em vários países, com a venda de diamantes de Angola.

SIC Notícias

Isabel dos Santos está a pagar aos advogados com dinheiro de uma sociedade sediada no Dubai, que faturou milhões com diamantes de Angola. Uma investigação do Expresso, da SIC e do jornal holandês NRC, teve acesso a documentos que mostram como a empresária, agora procurada pela Interpol, está a contornar o arresto das suas contas bancárias em vários países. Um escritório no Reino Unido, envolvido no esquema, paga também a alguns dos advogados de Isabel dos Santos em Portugal, mas todos garantem desconhecer a origem do dinheiro.

Criada há 9 anos, a Nemesis é a face visível da Odyssey, uma offshore de Sindika Dokolo – o falecido marido de Isabel dos Santos. Como diretor da Némesis, aparecia Konema Mwenenge, amigo de infância de Sindika. Por autorização de José Eduardo dos Santos, pai de Isabel dos Santos, a Odyssey ficou à cabeça da lista dos clientes preferenciais da Sodiam – a empresa pública de comercialização de diamantes.

Documentos a que a SIC e o Expresso tiveram acesso mostram que, só entre 2016 e 2018, a Nemesis revendeu cerca de 250 quilos de pedras preciosas que tinha comprado a baixo preço. Entre eles, estava o “4 de Fevereiro”, o maior diamante encontrado nas minas de Angola, que tem 404 quilates. Este tesouro passaria para as mãos da De Grisogono, a joalharia Suíça que o marido de Isabel dos Santos adquiriu, com dinheiro da Sodiam.

Quando tomou posse, o novo Governo de João Lourenço afastou a Odyssey da lista de clientes preferenciais e, numa providencia cautelar de arresto, Isabel dos Santos e o marido foram acusados de ter obtido com os diamantes ganhos superiores a 45%, sem qualquer benefício para o Estado angolano.

É com parte desses lucros, que Isabel estará agora a pagar aos seus advogados. Documentos obtidos pelo jornal holandes NRC – e a que a SIC e o Expresso tiveram acesso – mostram que a Nemesis estabeleceu pelo menos dois acordos para a atribuição de linhas de crédito, cada um deles até dois milhões de euros, para suportar os custos dos advogados holandeses contratados pela Exem – a sociedade de Isabel dos Santos. Há ainda um terceiro contrato, em que a Nemesis, entretanto renomeada de Naxos, assume os pagamentos de um processo interposto por Isabel dos Santos no Tribunal de Arbitragem Internacional de Londres.

Na circulação do dinheiro, entra um escritório de advogados na capital britânica: o Grosvenor Law. Este escritório parece atuar como intermediário, encaminhando os pagamentos para advogados holandeses, mas não só. Ao que a SIC e o Expresso apuraram, em Portugal há pelo menos quatro advogados que representam Isabel dos Santos e que receberam honorários via Grosvenor.

Contactados pela SIC, Germano Marques da Silva, João Barroso Neto e João Costa Andrade alegam o sigilo profissional para não responder às questões enviadas. Não negam ter recebido através da sociedade de advogados do Reino Unido, mas garantem desconhecer a origem do dinheiro. A resposta de Marco António Costa também é breve: o advogado ignora a pergunta feita pela SIC e prefere esclarecer uma dúvida que nem era colocada – afirma que os pagamentos nunca foram feitos pela Nemesis ou a Naxos.

Na Holanda, os administradores judiciais da Exem, a sociedade de Isabel dos Santos que entretanto entrou em falência, já pediram uma investigação a este esquema. A Ordem dos Advogados de Amesterdão também disse ao jornal NRC que vai abrir uma averiguação. O objetivo é perceber até que ponto é possível os defensores receberem dinheiro que pode ter origem em atos de nepotismo e corrupção.

A Grosvenor Law nunca respondeu ao pedido de esclarecimentos da SIC. Isabel dos Santos, através da assessoria de imprensa em Portugal, manda apenas dizer que não pode falar sobre o assunto. Da Nemesis, agora Naxos, também não chegou nenhuma resposta.

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