O candidato do PSD, Rui Rio, e João Oliveira, que substitui o candidato do PCP Jerónimo de Sousa, protagonizaram o frente a frente desta quarta-feira na SIC para as eleições legislativas de 30 de janeiro de 2022. Em debate estiveram temas como salários, o chumbo do Orçamento e uma nova “geringonça”.
Substituição é ensaio para a sucessão?
João Oliveira recusa a hipótese, afirmando que se procurou encontrar uma solução que não prejudicasse a agenda do PCP.
“A substituição mais rápida que precisamos é a nossa pelo secretário-geral do PCP. A estenose carotídea afasta qualquer possibilidade de especulação nesse sentido“.
Rui Rio deseja rápida recuperação a Jerónimo de Sousa, destacando que apesar das divergências, não as confunde com “uma pessoa que tem sido extremamente coerente”.
“Tomara que no meu partido houvesse gente assim coerente, mas com social-democracia…”.
Rui Rio
Impostos e salários
Em resposta às críticas do PCP, que acusou o PSD de não ser capaz de representar os trabalhadores, Rui Rio afirma que tudo aquilo que o PSD defende, o PCP defende o contrário, para destacar o “mar de divergências” que separam os dois partidos, nomeadamente na questão dos impostos.
“Defendemos menos impostos, o PCP defende mais impostos”.
Rui Rio
João Oliveira afirma que o PSD não é alternativa, dizendo que os problemas que os portugueses enfrentam hoje em dia acontecem porque “o PS não os quis resolver e o PSD não deixou que fossem resolvidos”, apontando propostas que os sociais-democratas rejeitaram, nomeadamente em questões salariais.
O PCP defende que o aumento generalizado dos salários é uma das questões mais decisivas nestas legislativas, sublinhando que se trata de uma grande emergência nacional para a qual é preciso dar resposta, não só através do aumento do salário mínimo, mas também do chamado “salário médio”.
“Salários acima do mínimo não aumentaram porque as propostas foram rejeitadas pelo PS mas também pelo PSD. Não há perspetiva de que o PSD possa ser alternativa”, afirma João Oliveira.
Rui Rio responde, apontando que para que os salários sejam melhores, é necessário “dirigir a política” a quem cria empregos e paga os salários: as empresas. Uma discussão que considera ser difícil de ter com o PCP, que acusa de querer nacionalizar os setores estratégicos da sociedade.
“O PCP quer nacionalizar os setores estratégicos. Isso levaria a economia à ruína, a salários mais baixos“, critica.
João Oliveira discorda, dizendo que criar melhores salários faz-se com medidas dirigidas a dinamizar a produção nacional, para não haver dependência do estrangeiro, afirmando que não há medidas dirigidas às empresas que possam solucionar o problema.
Dá como exemplo, para explicar, o início da pandemia, em que havia apenas uma fábrica que produzia máscaras em Portugal, um “reflexo dramático das políticas do Euro”, afirma.
“De que é que nos serve esse modelo económico? De nada. (…) Precisamos de uma política económica onde se incluem os setores estratégicos na mão do Estado”.
João Oliveira
Chumbo do Orçamento do Estado
Questionado sobre o chumbo do Orçamento do Estado, que precipitou a crise política e a marcação de eleições antecipadas, o PCP diz não haver dúvidas sobre o que aconteceu.
“O PS estava convencido de que se fossemos agora para eleições teria maioria absoluta e fez tudo o que podia para ir a eleições. Como é que se explica que um Governo que queria mesmo ter um OE em plena pandemia não tivesse dado resposta a uma única proposta de reforço do SNS?”, questiona João Oliveira.
Confrontado com a ideia de o seu partido ter desistido da discussão do Orçamento na especialidade, chumbando-o logo na generalidade, João Oliveira garante que o PCP discutiu “na medida em que era possível”.
“Quando colocamos um conjunto de matérias essenciais e urgentes para os portugueses e as respostas são recusas, como é que se poderia estar à espera que fosse mais à frente que as coisas se resolvessem?”, justifica.
Rui Rio subscreve, manifestando-se, ainda assim, em total desacordo com o que o PCP pediu ao Governo. Apesar disso, diz que o Governo sabia “perfeitamente a lógica do PCP”, dizendo que o que o Partido Comunista pediu ao Governo era expectável.
“A culpa é integralmente do Governo apesar de eu não estar de acordo com o PCP. António Costa entregou-se e o PCP não pediu nada que não seja do seu histórico”.
Rui Rio
PSD não se preocupa com os pensionistas?
Questionado sobre o aumento das pensões, Rui Rio diz que o PSD fará aumentos, particularmente nas pensões mais baixas, “sempre que a economia o permitir”. No entanto, avisa que não é possível “dar aquilo que não temos”.
“Quero dar, mas só dou quando posso dar”, afirma.
Nova “geringonça”?
Sobre a possibilidade de uma nova geringonça à esquerda, mediante os resultados das eleições legislativas no dia 30 de janeiro, João Oliveira diz apenas que uma maioria absoluta do PS “seria uma desgraça”, não respondendo se o PCP está disposto a novos acordos.