É certo que para uma chama começar é necessária uma ignição e oxigénio, mas para haver um incêndio é preciso combustível - massa florestal, por exemplo. E em grande parte do país, esta “carga de combustível” está acima da capacidade de extinção.
Quem o explica é Abílio Pereira Pacheco, investigador de fogos da universidade do Porto que, com a ajuda de um isqueiro, exemplificou, no estúdio da SIC Notícias, uma simples ignição.
“Para existir um incêndio preciso de ter uma ignição, de ter oxigénio, se não a chama não vai existir. Mas para haver um incêndio é preciso algo que arda. O que acontece em grande parte do país é que a carga do combustível está acima da capacidade de extinção”, afirma.
Um fogo de grande intensidade acontece em locais com carga de combustível acima de 8-10 toneladas por hectare. Em Portugal, “boa parte do país” tem uma carga acima de 30 toneladas por hectare, acrescenta Abílio Pereira Pacheco.
“Na prática não existe descontinuidade entre a vegetação no solo e o topo das árvores. O incêndio passa para a copa das árvores e são esses os incêndios mais catastróficos”, sublinha.
Qual é a solução?
O investigador explica que quanto menos ignições houver melhor, mas que apenas 2% das ignições geram a maior área ardida. Não deve, por isso, ser esse o foco, defende.
“Não é por diminuir as ignições que vou ter menos área ardida. O foco deve ser gerir o território para evitar a carga de combustível. Sabemos que quando há um incêndio não vai haver outro naquela área durante uns anos.”
Por isso, sugere, por exemplo, que se criem condições para tornar rentáveis atividades económicas como o pastoreio, permitindo que o gado ‘coma’ a vegetação, gerindo de forma quase indireta o terreno.